Joãozinho do Gato Preto: O Patriarca das Águas


Na vastidão enigmática do Pantanal de Mato Grosso, onde o Rio das Mortes serpenteia como uma veia pulsante, viveu lá por décadas uma comunidade singular, o Povo do Gato Preto. E entre eles, destacava-se Joãozinho, conhecido como o patriarca das águas e das idades. Sua narrativa, marcada por rituais ancestrais e uma ligação profunda com um território ancestral formado por terra e suas águas, que ecoava entre os barracões comunitários à margem do rio da morte.

Desde jovem, Joãozinho aprendera os segredos das águas com os mais velhos. Era um conhecedor dos mistérios da natureza e um guardião das tradições que moldavam sua comunidade. Mas sua vida não se resumia apenas aos rituais e às pescarias; havia um aspecto peculiar em sua jornada que captava a atenção de todos: suas esposas.

No Povo do Gato Preto, as regras do patriarcado eram claras e veneradas como a própria água que sustentava suas vidas. A cada década de vida, Joãozinho tinha o direito a uma nova esposa, e cada uma delas permanecia em sua vida por três décadas, até completarem 30 anos. Era então que acontecia o “ciclo do vento”, um ritual sagrado que marcava a transição das esposas para a Casa das Velhas. Lá, elas continuavam a ser respeitadas e cuidadas, dedicando-se à educação das crianças e preservando os saberes ancestrais.

Joãozinho, aos 60 anos, já era o patriarca de seis esposas, cada qual recebendo sua atenção em um dia específico da semana. Sua vida era como um calendário de afetos e deveres, equilibrando as necessidades da comunidade com os desígnios dos tempos.

O patriarca não era apenas um líder pelo direito do seu nascimento ou pelas regras que governavam seu território nas margens do rio das mortes; era também um curandeiro habilidoso. Conhecido por suas poções misteriosas, especialmente o guaraná ralado em bastão com pau de anta, que consumia três vezes ao dia, Joãozinho mantinha-se vigoroso e lúcido como um jovem, apesar dos anos que se acumulavam.

As narrativas sobre sua vitalidade, comparada à do presidente de república, Luís Inácio Lula da Silva com Janja, circulavam entre as mulheres da tribo como um segredo ancestral. Dizia-se que seu espírito livre e sua conexão com a terra e as águas eram o segredo de sua longevidade. E, é claro, o poder do guaraná ralado, uma dádiva que ele recebida do seu guru do pinto mole: o xamã Heitoreco.

O mentor das porções mágicas que Joãozinho do Gato Preto usava, era herança da aprendizagem que teve com o velhinho Heitoreco, de 65 anos, ainda vivo, era o guru e xamã da comunidade do Gato Preto e cuidava como ninguém do patriarca da comunidade. Conhecido por suas bebidas ‘macrobióticas’ que alimentavam o Libido e a vitalidade de Joãozinho, Heitoreco produzia uma mistura especial com ‘guaraná ralado, pau de anta e a raspa de uma raiz de uma árvore conhecida como ‘levanta deitado’, que ele cultivava nas áreas alagadas do pantanal, sem revela sua origem para a ninguém. Era uma arte que ele aprendera com os ancestrais do povo Gato Preto e aprimorava com sua sabedoria e intuição xamânica guiada por um santo chamado São José Guilherme – um santo do período medieval do tempo que o planeta terra estava em formação com o planeta dos macacos bugios no pantanal -.

Neste cenário surrealista do território do Gato Preto, não era apenas de saúde e rituais que se fazia a vida de Joãozinho. Ele também enfrentou desafios e crises dentro e fora do território do seu povo. Conflitos com outros povos das margens do Rio das Mortes, mudanças climáticas que alteravam o curso natural das águas, e até mesmo a chegada de gringos forasteiros com novas ideias e práticas desafiadoras para a tradição do Povo Gato Preto.

Certa vez, durante uma seca severa que assolou a região do pantanal, Joãozinho teve que liderar sua comunidade em uma batalha épica em busca de água e sustento. Foi um teste de sua liderança e um lembrete de como a natureza, apesar de ser uma aliada, podia ser também uma mestra implacável. Ele construiu um rego de água que leva água do rio das mortes para os lugares mais distante do pantanal.

Ao longo de sua vida extraordinária, Joãozinho viu sua comunidade crescer e se transformar, assim como as águas do Rio das Mortes que fluíam eternas e imprevisíveis. Ele era um guardião das tradições, um protetor das mulheres que dedicaram suas vidas ao conhecimento e à educação das gerações futuras.

Neste cenário bucólico, Joãozinho Gato Preto viveu até os impressionantes 130 anos, testemunhando nove ‘ciclos do vento’ e vendo 13 esposas passarem por sua vida com vitalidade e muito amor. Cada uma delas deixou uma marca indelével não apenas em seu coração, mas também na história de sua comunidade e na alma do Pantanal do Mato Grosso.

No dia de sua partida, o sol brilhava sobre as águas tranquilas do Rio das Mortes, e a comunidade se reuniu para celebrar a vida e os ensinamentos de seu patriarca. As mulheres mais velhas, agora sábias guardiãs do conhecimento, entoaram cânticos de despedida, ecoando entre as palmeiras e as águas serenas com som de tambores produzidos com couro de onça-preta do pantanal.

Conforme as narrativas dos mais velhos, Joãozinho Gato Preto foi arrebatado para o terceiro céu, conforme está previsto na carta do apóstolo Paulo em 2 Coríntios 12:2-4, onde estava escrito que o se viu e ouviu no terceiro céu, coisas indizíveis, que não é lícito ao homem comentar. Seu espírito, dizem os anciãos, fundiu-se com as águas do rio das mortes, tornando-se uma parte eterna da terra que tanto amou e viveu com suas esposas.

Neste cenário pantaneiro, entre lendas e verdades, a narrativa de Joãozinho do Gato Preto continua a ser contada nas noites estreladas do Pantanal de Mato Grosso. É quando as águas murmuram segredos de antigamente e os ventos assobiam histórias para aqueles que têm ouvidos de ouvir. As estrelas se deitam no leito dos rios, e as palavras viram peixes que nadam na correnteza do imaginário. No balé das águas e no sussurro do vento, a crônica de Joãozinho se perpetua, tecida de sonhos e assombros, onde o real se dissolve e o surreal brota como flor no barro.

João Guató

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