A Saga de Dante de Oliveira na Política em Mato Grosso

No calor abrasador do final de 1998, Cuiabá, a pacata cidade que se via agitada pela sucessão do governo estadual, era palco de um confronto político que prometia ser memorável. Dante de Oliveira e Júlio Campos, figuras emblemáticas da política mato-grossense, se enfrentavam numa disputa que, mais do que uma simples batalha eleitoral, era um épico da dramaturgia política brasileira.

A campanha eleitoral estava pegando fogo, mas o verdadeiro espetáculo não se encontrava apenas nas palavras afiadas dos candidatos ou nos comícios lotados. Não havia Facebook ou Twitter para propagar a enxurrada de memes e provocações, mas isso não significava que a criatividade dos bastidores estivesse de férias. Naquela época, a artimanha do humor fazia sua própria revolução, com charges clandestinas servindo de armas de propaganda e escárnio.

E assim surgiu, como um mistério bem guardado, uma charge que virou uma lenda nas ruas e esquinas de Cuiabá. Júlio Campos, desenhado de quatro, parecia mais uma peça do jogo cruel da política do que um simples adversário. Em cima dele, um Dante de Oliveira triunfante e desafiador, ostentava um adereço que mais parecia uma caricatura exagerada de um pênis de jumento, completado com a frase “A Hora da Virada”. O significado não poderia ser mais claro: a virada que Dante almejava, agora ridicularizava o rival em uma provocação de proporções quase míticas.

Esse folheto apócrifo, com seu toque irreverente e uma pitada de humor grotesco, não era apenas uma peça de marketing criativo. Era uma declaração de intenções, uma forma de mostrar que Dante estava não só na corrida, mas determinado a virar o jogo, derrotando Júlio Campos de forma literal e metafórica. O efeito na campanha foi palpável. As conversas nas praças, nas filas dos supermercados, nos cafés e nas mesas dos barzinhos passaram a girar em torno da charge. Dante de Oliveira não só capturava a imaginação popular, mas também plantava a ideia de que a virada estava prestes a acontecer.

A campanha foi marcada por um vigor que traduzia o espírito da época. Dante de Oliveira, com sua coalizão de PSDB, PSB, PMN e PV, levou adiante a mensagem de que era “A Hora da Virada”. E a charge, com seu humor ácido e exagerado, ecoou a promessa de mudança. No dia da eleição, a “virada” se concretizou. Dante obteve 54% dos votos válidos, vencendo Júlio Campos e conquistando o governo do estado de Mato Grosso.

O triunfo de Dante foi mais do que uma vitória eleitoral. Foi uma afirmação de que, por vezes, a irreverência e o humor são tão poderosos quanto qualquer estratégia convencional. A charge com o pênis de jumento, que parecia algo saído de um conto de fadas político, passou a ser um símbolo de uma época onde a política se encontrava com a criatividade de maneiras inesperadas.

Enquanto Dante de Oliveira assumia seu cargo de governador, a charge permanecia como uma lenda, uma lembrança de que, no jogo da política, até o humor mais ácido pode abrir caminho para a vitória. Assim, o pênis de jumento de Júlio Campos encontrou seu lugar na história, provando que, em meio ao calor das eleições e ao fervor das campanhas, às vezes a chave para o sucesso está em um toque de irreverência bem calculado.


Entre a Promessa e a Realidade

Cuiabá, com suas ruas serpenteantes e a vegetação exuberante ao redor, testemunhou o nascimento de uma figura notável em 6 de fevereiro de 1952: Dante Martins de Oliveira. Filho de Sebastião de Oliveira, deputado estadual pela União Democrática Nacional (UDN), e Maria Benedita Martins de Oliveira, o jovem Dante cresceu imerso em um ambiente onde a política e o serviço público eram temas recorrentes.

Nos anos 50 e 60, Dante frequentou a Escola Estadual de Cuiabá e a Escola Barão de Melgaço, estabelecendo as bases para sua futura trajetória. Nessas instituições, aprendeu não apenas as disciplinas acadêmicas, mas também os valores de compromisso e resiliência que moldariam seu caráter e sua carreira política.

Nos anos 70, sua jornada tomou um rumo decisivo quando se mudou para o Rio de Janeiro para cursar engenharia civil na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Lá, engajou-se ativamente com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que resistia ao regime militar que havia deposto o presidente João Goulart em 1964. A experiência na UFRJ e no MR-8 foi crucial, expandindo sua visão política e suas convicções sobre a luta pela democracia.

Após concluir o curso em 1976, Dante retornou a Cuiabá e iniciou sua carreira política. Candidatou-se a vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido que se opunha ao regime militar, mas não conseguiu se eleger. No entanto, sua determinação não diminuiu. Em 1977, assumiu a secretaria geral do MDB mato-grossense e, em 15 de novembro de 1978, foi eleito deputado estadual, começando seu mandato em fevereiro de 1979.

A extinção do bipartidarismo em 1979 e a reorganização partidária levaram Dante a se filiar ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), que sucedeu o MDB. Em 1982, após divergências políticas, ele formalizou sua saída do MR-8 e, em novembro do mesmo ano, concorreu a deputado federal. Eleito com a segunda maior votação do partido, Dante assumiu o cargo em 1º de fevereiro de 1983, e integrou a Comissão do Interior como titular e a Comissão da Agricultura e Política Rural como suplente.

Sua carreira política avançou significativamente com sua nomeação como Ministro da Reforma Agrária de 1986 a 1987 e, posteriormente, como Governador de Mato Grosso entre 1995 e 2002. Durante esse período, Dante desempenhou um papel crucial na reforma agrária e na administração estadual, refletindo o compromisso e a visão que tiveram origem em seus primeiros anos nas escolas de Cuiabá e Barão de Melgaço.

Dante Martins de Oliveira é um exemplo de como a formação e as experiências iniciais podem moldar o futuro de um indivíduo. As memórias de suas escolas em Cuiabá e Barão de Melgaço, as batalhas políticas enfrentadas no Rio de Janeiro, e sua trajetória na vida pública em Mato Grosso entrelaçam-se para contar a história de um homem cuja vida e carreira são um reflexo de um sonho realizado e de um legado duradouro.


Dante de Oliveira: O Imortal de Cuiabá

Quando Dante Martins de Oliveira nasceu em Cuiabá, no alvorecer de 1952, a cidade ainda não era o centro pulsante do Brasil Centro-Oeste que viria a se tornar. A história, porém, estava prestes a entrelaçar-se com o destino de um jovem que cresceria para moldar os rumos políticos do estado. Filho de Sebastião e Maria Benedita, com um pai que já havia se aventurado no tumultuado mundo da política local, Dante tinha em suas veias o espírito desafiador e reformista que seu tempo demandava.

O jovem Dante foi para o Rio de Janeiro na década de 1970, período em que a efervescência política e social transformava o país. Cursando engenharia civil na Universidade Federal do Rio de Janeiro, seus dias se entrelaçavam com as disputas ideológicas do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, uma dissidência que gritava pela mudança em um cenário nacional conturbado. Entretanto, a energia revolucionária que o envolvia não o deteve por muito tempo; em 1976, de volta à sua terra natal, Dante se lançava na política local, tentando, mas não conseguindo, uma cadeira na câmara municipal.

O tempo, no entanto, era um aliado curioso. Após uma passagem breve pelo Movimento Democrático Brasileiro, e o subsequente renascimento como Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Dante se lançou com afinco na política federal. Em 1983, seu nome era assinado no projeto de emenda constitucional que ficou conhecido como a Emenda Dante de Oliveira. Era um grito no deserto, buscando a restaurar a democracia direta em um momento em que a esperança parecia tão frágil quanto as folhas de outono.

A emenda, apesar de não ser aprovada, foi um grito poderoso, marcando a transição de um regime militar para a democracia direta, um passo histórico que ressoou nos anos seguintes. A luta de Dante não cessou ali. Em 1986, com o apoio de José Sarney, tornou-se Ministro da Reforma e do Desenvolvimento Agrário, assumindo uma pasta que era tão desafiadora quanto promissora. Apesar dos obstáculos e das dificuldades, Dante buscou transformar a reforma agrária, enfrentando a corrupção e os problemas estruturais com determinação e coragem.

Cuiabá, sua cidade natal, assistiu a ascensão e os percalços de Dante com uma mistura de orgulho e ceticismo. Ele voltou à prefeitura da cidade, encontrando-a em crise financeira, mas com a garra que o caracterizava, conseguiu navegar pelas dificuldades. As ruas que conhecera em sua infância testemunharam seu trabalho para estabilizar a administração e enfrentar uma dívida crescente.

A virada do milênio trouxe novos desafios. A tentativa de Dante de expandir sua influência para o Senado e a subsequente disputa com acusações de corrupção e envolvimento com o crime organizado foram capítulos sombrios em uma vida política recheada de altos e baixos. A tentativa de reeleição como governador e os escândalos que se seguiram não diminuíram a figura que ele representava para muitos: um homem que se esforçou para transformar o Mato Grosso e o Brasil em um lugar mais justo.

Dante Martins de Oliveira faleceu em julho de 2006, um dia de calor úmido em Cuiabá. Em sua cidade, suas memórias eram misturadas com as das cicatrizes e vitórias que deixou para trás. Seu legado não era apenas o de um político, mas o de um homem que buscou o ideal de mudança e justiça em tempos muitas vezes adversos. Ao longo de sua trajetória, sua figura se desenha como um monumento ao esforço, à paixão e à complexidade da política brasileira.

E assim, o nome de Dante de Oliveira é sussurrado na brisa quente do Centro-Oeste, um eco das esperanças e desafios de uma era de transformação, e um lembrete de que, na política, assim como na vida, a perseverança pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição.

Veja e ouça o jingle de campamha

João Guató

Pasquim Teológico: sua revista virtual das boas novas com acesso gratuito, de massa e democrático!

Você pode gostar...