O Legado da Resistência: Aleida Guevara e a Palestina
No cenário conturbado do Oriente Médio, onde as sombras da guerra se arrastam como fantasmas, emerge uma figura que, ao mesmo tempo, carrega o peso da história e a esperança de um futuro melhor. Aleida Guevara, filha do lendário Che Guevara, se ergue como embaixadora da causa palestina, trazendo consigo não apenas o sobrenome, mas a herança de um ativismo que ecoa através das décadas.
Aos 63 anos, Aleida é uma pediatra de renome em Cuba, mas sua vocação vai além das paredes do consultório. Seu compromisso com a justiça social e o bem-estar da infância a transformaram em uma voz respeitada internacionalmente. E agora, nessa nova etapa de sua vida, ela se vê na posição de defender aqueles que, como os palestinos, sofrem sob um regime opressor, um genocídio que, em suas palavras, não é apenas uma guerra, mas um clamor por dignidade e reconhecimento.
Recentemente, no primeiro Fórum Internacional dos Embaixadores do Retorno à Palestina, realizado em Beirute, a história se cruzou com a atualidade. Este evento não apenas comemorou os 75 anos da Nakba — a “catástrofe” que deslocou milhares de palestinos em 1948 — mas também estabeleceu um marco para a luta contínua pela autodeterminação. A nomeação de Aleida como embaixadora é, para ela, uma dupla responsabilidade. Como a única mulher latino-americana presente, sua missão transcende fronteiras: ela é a voz das mulheres e crianças palestinas, que sofrem de maneira desproporcional.
Em suas palavras, a indignação é palpável. “O que está acontecendo não é uma guerra. É genocídio. A Palestina está sob a ocupação sangrenta de Israel há 76 anos”, afirma, como quem carrega um fardo que, embora pesado, é intransferível. O contraste entre a sua luta e os horrores diários que se desdobram em Gaza e na Cisjordânia é um lembrete sombrio da fragilidade da vida.
Aleida se recorda da visita de seu pai a Gaza, em uma época em que as esperanças de um futuro melhor eram mais palpáveis. Che Guevara, o revolucionário imortalizado nas camisetas e nos corações de muitos, se tornou um símbolo de resistência. Sua conexão com a Palestina foi profunda e, de alguma forma, premonitória. Ao se encontrar com líderes da resistência palestina, ele buscava entender e apoiar. No imaginário coletivo, Che não apenas defendeu Cuba, mas, com sua visão de solidariedade internacionalista, se tornou um ícone que transcendeu as fronteiras.
O legado de Che se reflete na luta de Aleida, que agora traz essa herança para o presente. Ao ser a porta-voz da causa palestina, ela não apenas perpetua a memória de seu pai, mas também reafirma a necessidade urgente de ação e consciência global. “É preciso chamar as coisas pelo nome”, ela diz, ecoando uma verdade que muitos preferem ignorar. As cifras de mortos e desaparecidos são apenas a ponta do iceberg; a dor e o sofrimento se estendem por gerações.
E assim, enquanto o mundo observa, Aleida Guevara caminha com coragem, acompanhando e apoiando aqueles que enfrentam o horror diário. A sua luta é, em última análise, uma luta por humanidade. Uma batalha em que a voz de uma mulher se ergue, não apenas em nome da Palestina, mas em nome de todos que sonham com um mundo mais justo. E nesse entrelaçar de histórias, onde passado e presente se fundem, o nome Guevara se transforma, mais uma vez, em um grito de resistência e esperança.