Che Guevara e a Luta da Palestina

A história é feita de encontros, desencontros e a resistência silenciosa de homens e mulheres que se levantam contra a opressão. Em um desses encontros, o jovem Che Guevara, recém-saído da Revolução Cubana, embarcou em uma missão que o levaria a cruzar mares e fronteiras, mas que, acima de tudo, o aproximaria da luta de um povo que clama por liberdade: os palestinos.

Foi em 1959, apenas seis meses após a vitória em Cuba, que Che e sua delegação aportaram no Egito, sob o olhar atento de Gamal Abdel Nasser. A atmosfera do momento pulsava com a esperança de um novo mundo, um mundo em que as amarras do colonialismo se rompessem. Nasser, símbolo do pan-arabismo, sonhava em unir as nações árabes contra a opressão imperialista, e Che, com sua ideologia anti-imperialista, encontrou um terreno fértil para plantar suas ideias.

“Meu pai e Fidel estavam sempre conspirando”, lembra Aleida, sua filha. As conversas que ecoavam nas paredes do palácio de Nasser falavam de solidariedade e revolução, de como a luta dos cubanos poderia se entrelaçar com a dos povos oprimidos da África e da Ásia. Foi nesse contexto que a questão palestina surgiu, como uma ferida aberta no coração da região.

Ao ser levado a Gaza, Che não apenas conheceu a dor de um povo deslocado, mas buscou compreender a força da resistência. “Não, não preciso ver isso”, teria dito, preferindo conhecer os lugares onde a resistência se organizava, onde se forjava a luta. Essa anedota, verdadeira ou não, revela muito sobre o espírito de Che: um revolucionário que enxergava não apenas o sofrimento, mas a capacidade de luta que dele emergia.

Na mente de muitos, Che tornou-se uma figura que transcendia fronteiras. Em sua viagem, ele não apenas observou; ele se tornou parte de uma narrativa maior. Foi um dos primeiros a levar a questão palestina aos palcos internacionais, até mesmo à ONU, um ato que reverberou em todo o mundo árabe. “Ele foi um símbolo de resistência ao sionismo e ao imperialismo”, diz Aleida, como se em suas palavras houvesse a certeza de que seu pai havia plantado uma semente que floresceria em corações aflitos.

O legado de Che na Palestina se entrelaça com a luta atual, e sua imagem é evocada nas manifestações, nas bandeiras tremulando ao vento. Che é mais do que um ícone; é um ideal, um convite à luta por dignidade, um chamado à ação. As palavras de Aleida ressoam como um eco do passado: “Meu pai morreu defendendo seus ideais em terras distantes, mas sua luta é universal”.

Assim, o tempo avança, mas as lições do passado permanecem vivas. Em cada grito por liberdade, em cada lágrima derramada, ressoa a força de um homem que, mesmo longe, se fez presente na luta de outros. A Palestina, ao lembrar de Che, não apenas honrou sua memória, mas reafirmou que a luta por justiça é, antes de tudo, um ato de amor pela humanidade. A resistência é eterna, e enquanto houver aqueles que se levantam, as vozes que clamam por liberdade jamais serão silenciadas.

João Guató

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