A Ilusão da Privatização: Um Perigo Para a Educação Pública

Essa semana, um consórcio liderado por uma construtora de rodovias conquistou o segundo leilão da Parceria Público-Privada (PPP) das escolas em São Paulo, levantando uma onda de preocupações sobre o futuro da educação pública no Brasil. Essa iniciativa, que tem como promessa a modernização e a eficiência, na verdade pode ser um passo perigoso rumo à mercantilização do ensino, onde o lucro se sobrepõe ao compromisso com a qualidade educacional.

A privatização da educação não é uma novidade em nosso cenário. O discurso em torno da eficiência, da inovação e da gestão privada frequentemente oculta uma realidade mais complexa: a precarização e o desmantelamento do que deveria ser um direito universal. Em vez de ver a educação como uma esfera de investimento social, a visão privatista a transforma em um produto a ser vendido, onde o aluno é mais um cliente do que um cidadão.

O fato de uma construtora de rodovias, cuja expertise reside em construir e administrar estradas, agora ser a responsável por escolas, levanta questões cruciais sobre a competência e o compromisso desse consórcio com a educação. O que se espera de uma empresa cuja principal experiência é em infraestrutura, e não em pedagogia ou em práticas educacionais? Essa transição de foco sugere uma desvalorização do papel educacional em favor de um modelo gerencial que prioriza o lucro.

Além disso, ao entregar a gestão escolar a entidades privadas, corremos o risco de aprofundar as desigualdades já existentes no sistema educacional. A educação pública deveria ser um espaço de inclusão e equidade, mas as PPPs tendem a beneficiar aqueles que podem pagar. Os alunos de escolas privatizadas, mesmo que à primeira vista apresentem resultados positivos, muitas vezes recebem uma educação que serve mais aos interesses do mercado do que às necessidades da sociedade.

É alarmante perceber que, enquanto se discute a privatização, o investimento na formação e valorização dos professores, fundamentais para a qualidade do ensino, permanece em segundo plano. O sucesso de qualquer sistema educacional reside na capacitação e no respeito ao docente, não em estruturas de gestão que visam o lucro a qualquer custo.

As experiências internacionais com a privatização da educação mostram resultados ambivalentes, onde as promessas de melhoria muitas vezes se desfazem em realidades de descompasso e exclusão. É preciso lembrar que a educação não é apenas um produto a ser consumido, mas um bem público que deve ser nutrido e respeitado.

Enquanto São Paulo se aventura nesse caminho arriscado, é crucial que a sociedade civil se manifeste. Precisamos exigir transparência, accountability e, acima de tudo, um compromisso inabalável com a educação pública. Não podemos permitir que a educação se torne mais uma arena de exploração econômica, onde os interesses privados se sobrepõem aos direitos dos cidadãos. O futuro da educação deve ser construído com a participação de todos, e não relegado às mãos de corporações que visam apenas o lucro. A educação é um direito, não um negócio.

João Guató

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