Tiü França: homem bomba

O Brasil amanheceu perplexo. Um carro explodiu no anexo IV da Câmara dos Deputados em Brasília, deixando, no centro do palco, Francisco Wanderley Luiz, mais conhecido como Tiü França, um homem de passado pouco conhecido e ideias que ecoam teorias conspiratórias. Natural de Santa Catarina, ele nutria um discurso inflamado, com ataques constantes ao Supremo Tribunal Federal, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e às lideranças das duas Casas do Congresso Nacional. A explosão, premeditada em postagens públicas, é uma ação que deixa cicatrizes não apenas nas paredes de Brasília, mas nas fundações simbólicas de um país ainda à procura de estabilidade.

Uma hora antes do estrondo, Tiü França publicava suas últimas palavras nas redes sociais. “Deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro)”, escreveu, com uma audácia que flertava com o trágico. Em outra postagem, em tom de profecia, dizia que a explosão marcaria uma “verdadeira proclamação da república”. Em Brasília, aquela explosão carregava o peso de algo que ressoava como um ato desesperado, ecoando um extremismo alimentado por tempos de incertezas e de tensões.

Francisco Luiz, que foi candidato a vereador em Rio do Sul pelo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, era mais um entre tantos que cultivaram um discurso radical e inflamado, alimentado por páginas de redes sociais voltadas à extrema-direita. Na sua visão, essa era a “batalha final”, um espetáculo em que ele seria a figura central. Seus ataques ao STF e suas ameaças públicas pareciam o desabafo de alguém que se colocava como guerreiro de uma causa que ele próprio enaltecia.

Mas o país observa agora os rastros dessa tragédia, que transcende o impacto físico da explosão. Em cada postagem, em cada frase deixada em redes sociais, existe o reflexo de uma nação que atravessa uma fase de profunda divisão. Tiü França, com sua figura e seu gesto final, revelou-se como um personagem do nosso tempo, em que a informação e a distorção se encontram, criando ídolos efêmeros e gestos drásticos.

No fundo, o atentado de Tiü França é um sinal. É o grito de uma era em que o radicalismo se torna bandeira, em que o heroísmo se confunde com impulsos autodestrutivos. Brasília, epicentro das decisões e das desavenças nacionais, mais uma vez foi palco desse choque entre a realidade e a ilusão, onde cada gesto extremo nos faz questionar até onde o país conseguirá resistir intacto ao peso desses atos que parecem, em sua essência, uma triste busca por identidade.

João Guató

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