O Mercosul, a América Latina e o Risco de Trump: Uma Oportunidade Que Não Podemos Deixar Escapar

Em tempos de novos e velhos desafios, a América Latina se vê, mais uma vez, entre o espelho e a faca. O protecionismo cresce de maneira preocupante nos Estados Unidos, um fenômeno que, sob a batuta de Donald Trump, intensifica suas raízes como se o mundo fosse uma selva de interesses onde o mais forte come o mais fraco. E é nesse cenário de incertezas e fraturas globais que o Mercosul, nossa velha e nem sempre valorizada união, ganha importância renovada.

Na sexta-feira (6), um capítulo de relevância histórica foi escrito em Montevidéu, no Uruguai, quando foi finalmente formalizado o acordo de parceria entre o Mercosul e a União Europeia. Embora o processo tenha sido longo e repleto de obstáculos, o fato é que estamos diante de um marco que deve ser comemorado. O acordo, que cria um mercado conjunto de US$ 22 trilhões, representa 17% da economia mundial e 750 milhões de consumidores em potencial. O que isso significa, afinal, para nós, latinos-americanos?

Primeiro, não podemos ignorar a condição de fragilidade estrutural que o Mercosul ainda enfrenta. O bloco, embora consolidado politicamente, esbarra constantemente em divergências internas. O Brasil, com seu gigante território e economia, naturalmente se coloca como a locomotiva, mas há sempre a tendência de que os vagões de outros países, como Argentina, Paraguai e Uruguai, puxem a carruagem em direções diferentes. No entanto, é no convívio dessas diversidades que reside o valor do Mercosul: somos diferentes, mas com objetivos comuns.

Em um mundo cada vez mais polarizado, com uma Europa refém de seus próprios dilemas internos e uma China buscando expandir sua influência, o fortalecimento de laços regionais dentro da América Latina e com os nossos parceiros internacionais torna-se não só uma estratégia, mas uma necessidade. A nossa integração com a União Europeia, somada ao potencial econômico de 22 trilhões de dólares, coloca o Mercosul em uma posição estratégica rara: a de um bloco capaz de negociar com grandeza, mesmo diante de um cenário global turbulento.

O risco de um “Trumpismo” crescente não pode ser subestimado. A ascensão do populismo protecionista nos Estados Unidos nos faz lembrar que a guerra comercial que o ex-presidente travou contra o mundo não é uma página virada, mas um prenúncio do que ainda pode vir. Se, por um lado, o ex-mandatário atacava aliados e inimigos com igual intensidade, por outro, isso revelou um comportamento destrutivo, mas, ao mesmo tempo, forçou uma reflexão global sobre a necessidade de reequilibrar as relações comerciais.

No cenário atual, portanto, o Mercosul surge não como um “consolo”, mas como uma válvula de escape estratégica. A redução das dependências externas, a diversificação de parceiros e o aumento das transações intra-bloco são vitais para garantir que a América Latina, por meio de suas economias interligadas, possa se proteger contra os impactos da crescente fragmentação mundial. Não há dúvidas de que a união dos países latino-americanos não só amplia o poder de negociação, mas oferece um elo fundamental de resistência às tensões geopolíticas do momento.

É claro que ainda há muito trabalho pela frente. Os desafios internos de governança, as desigualdades entre os países do Mercosul, e as dificuldades políticas que surgem a cada novo governo, como o próprio Brasil enfrentará com as próximas eleições, exigem prudência. No entanto, o que se observa agora é que o bloco não pode e não deve ser um espectador passivo diante das grandes mudanças do sistema internacional.

Como o presidente Lula recentemente afirmou, “O Mercosul não é apenas uma união de mercados, é um projeto de integração que representa a nossa capacidade de sermos mais fortes juntos, de fortalecer a democracia, a justiça social e o desenvolvimento sustentável na América Latina”. Essa visão de integração não é só econômica, mas, principalmente, política e social, visando a união das nossas populações para um futuro mais solidário e equilibrado.

Em tempos de incerteza, temos uma única certeza: o Mercosul, como bloco regional, é nossa maior aposta para navegar pelas turbulências internacionais que nos cercam. O mundo, como sempre, vai girar, mas, com essa aliança estratégica, a América Latina poderá finalmente ocupar um lugar digno e relevante nesse jogo global.

João Guató

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