A Pedagogia das Aprendências





Contei meus anos de sala de aula e descobri que terei menos tempo para ensinar do que já ensinei. E, nessa contagem, percebi que ensinar deixou de ser acumular conteúdos para se tornar a arte de saborear o essencial: a experiência. 

Como o menino da bacia de jabuticabas, já fui um professor que “chupava” conceitos e teorias de forma displicente. Focava nos grandes nomes, nas últimas publicações, no próximo seminário. Achava que o tempo era eterno, que sempre haveria outra turma, outro ano letivo, outro projeto de extensão. Agora, com menos jabuticabas na bacia, percebo que a pedagogia da vida não está nos tratados acadêmicos, mas no roer do caroço da experiência vivida. 

A pedagogia das aprendências não tem paciência para mediocridades disfarçadas de teorias. Não quer reuniões em que mestres e doutores desfilam egos como se fossem estrelas de uma galáxia que só eles enxergam. O que importa, afinal, é o brilho daqueles olhos curiosos no fundo da sala, esperando um convite para pensar, sentir e viver o que ainda não sabem que sabem. 

Já não tenho tempo para “projetos pedagógicos” que nunca saem do papel, enfeitados por palavras vazias que escondem mais intenções políticas do que educacionais. Não quero formar alunos para títulos, quero formar humanos para o mundo, seres que entendam que a verdadeira aprendizagem é coletiva, feita de trocas, erros, dúvidas e escuta atenta. 

Inquieto-me com os professores que competem por publicações como troféus, esquecendo que o verdadeiro legado não é o artigo indexado, mas a memória que deixamos naqueles que ensinamos. Não há prêmio maior do que ser lembrado como alguém que, em vez de impor verdades, ajudou o outro a construir a sua própria. 

Minha alma tem pressa para ensinar o que importa: o respeito pela diversidade, a dignidade dos invisíveis, o valor das pequenas gentilezas. Quero ensinar que aprender não é acumular, mas desapegar; não é competir, mas colaborar; não é saber tudo, mas saber-se incompleto. 

Prefiro agora caminhar com estudantes que não temem admitir seus erros, que se levantam após cada tropeço com o riso de quem sabe que aprender é, antes de tudo, viver. Quero ensinar com aqueles que não se encantam com o sucesso vazio, mas com a simplicidade de um olhar que diz: “Eu aprendi algo novo hoje.” 

A pedagogia das aprendências me lembra que, no final, não importa quantas jabuticabas restam na bacia, mas sim como saboreamos cada uma delas. A essência está no simples, no encontro, no amor sem fraudes. Porque ensinar – e aprender – só vale a pena quando fazemos isso com aquilo que Rubem Alves chamou de “gente humana, muito humana”. 

E é com essa gente que quero gastar o tempo que ainda me resta.

João Guató

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