A Pedagogia das Capivaras

Certa vez, minha filha chegou em casa, com aquele brilho nos olhos que só as crianças têm quando carregam no peito as emoções do dia. Ela estava empolgada, mas ao mesmo tempo com um leve semblante de dúvida. “Pai, a professora chamou eu e minhas amigas de capivarinha hoje”, disse ela, como se fosse um mistério a ser desvendado.

Fiquei pensando por um instante. Capivarinha? Que imagem seria essa? Até que ela completou: “É porque a professora disse que a gente anda igual capivara, tudo em fila, como elas andam nas trilhas da beira do rio”. A imagem de capivaras, grandes e tranquilas, caminhando calmamente em fila, logo me fez refletir. E foi aí que tudo se encaixou.

A capivara é um animal que, apesar de seu tamanho imponente, vive em harmonia com a natureza. Ela anda devagar, mas de forma coordenada, respeitando o ritmo do grupo. Cada uma segue o seu papel, ao mesmo tempo em que observa os outros, ajudando-se mutuamente. Quando as capivaras andam em fila, elas não estão apenas indo de um ponto a outro, mas respeitando um fluxo, um processo coletivo que é mais importante que a rapidez ou a individualidade.

Se pensarmos bem, a dinâmica da capivara é uma verdadeira metáfora da pedagogia das aprendências. Um conceito que vai além de simples transmissões de saberes, e se conecta profundamente com a aprendizagem que se dá através da convivência, da observação e do acolhimento mútuo. Assim como as capivaras, as crianças não devem ser apressadas a correr para um destino; elas devem aprender a andar juntas, respeitando o ritmo do grupo e ajudando umas às outras.

A pedagogia das aprendências, que se fundamenta em processos de construção do conhecimento, reforça a ideia de que o aprender não é uma corrida individual, mas um trajeto coletivo. Cada aluno, como uma capivara, tem sua maneira de aprender, mas é no grupo que essa aprendizagem se fortalece. Na sala de aula, não há um caminho único para todos, mas sim uma trilha onde cada um contribui com seu passo, seu olhar e suas experiências. A professora, assim como o rio que cerca as capivaras, precisa ser o ponto de apoio que orienta e nutre essa caminhada coletiva.

E eu pensei, ao ouvir a história da minha filha, como o ato de andar em fila, como as capivaras, é uma lição profunda sobre a importância da convivência no processo de aprendizagem. A sala de aula é como uma trilha à beira de um rio, onde a professora não apenas ensina, mas também observa, guia e, acima de tudo, aprende com seus alunos. O verdadeiro aprendizado acontece quando todos os envolvidos reconhecem suas forças e suas fraquezas, e juntos, como as capivaras, seguem em fila, respeitando o ritmo de cada um.

O que me encantou nessa reflexão é a leveza com que minha filha falou sobre o apelido. Ao invés de se sentir incomodada, ela sorriu e até gostou da comparação. Afinal, ser uma capivarinha significa estar em sintonia com o grupo, é um aprendizado que se faz no caminhar, no observar, no respeitar e no acolher. Quem sabe a professora não estava, sem querer, ensinando a todos nós uma lição valiosa sobre como aprender e ensinar, com respeito e leveza, sempre em harmonia com a trilha do saber.

João Guató

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