O Peso do Diploma
A Lei de Cotas para o ensino superior completou 12 anos em 2024, e com ela, muitas portas se abriram. A imagem dos campi universitários mudou. De corredores antes majoritariamente brancos, surgiram rostos negros, pardos e indígenas, transformando não só o cenário, mas a própria ideia de quem pode ocupar aquele espaço.
Os números comprovam o sucesso da política. De 2012 a 2024, a proporção de pessoas negras com ensino superior mais do que dobrou, saindo de 3,9% para 9,2%. Mas, enquanto muitos comemoram, outros ainda sobem uma escada cujo topo parece distante.
Porque o diploma, que deveria ser uma chave para o futuro, ainda tem cor. No mesmo período, a proporção de não negros com ensino superior também cresceu, mantendo uma diferença de mais de 10 pontos percentuais. Não bastasse o caminho mais longo até a formatura, o retorno financeiro desse esforço é menor para os negros.
Em 2024, o rendimento médio de um negro com ensino superior era de R$ 4.798, enquanto um não negro com o mesmo diploma ganhava R$ 7.030. Essa diferença, que pode parecer só um número, pesa no bolso, nos sonhos e na vida. Ao longo de 40 anos de trabalho, um negro com formação superior deixará de ganhar, em média, R$ 1,11 milhão.
O mercado de trabalho não é um campo nivelado. Mesmo com o diploma nas mãos, pretos e pardos enfrentam barreiras que não estão nos livros: preconceito, discriminação velada, portas que se fecham antes mesmo de serem batidas.
E quando falamos de desemprego, a diferença persiste. A taxa de desocupação dos negros é sempre maior que a dos brancos, assim como o rendimento médio no trabalho. Em 2024, enquanto os brancos ganhavam em média R$ 5.018, os pretos recebiam R$ 2.350 — menos da metade.
A Lei de Cotas provou que, quando se abre uma porta, há quem a atravesse e mostre que merece estar ali. Mas o desafio está longe de acabar. Porque, mesmo com o diploma na mão, ainda há uma sociedade inteira a convencer de que o conhecimento não tem cor, e que a meritocracia, para funcionar, precisa começar com igualdade de oportunidades.
No fim das contas, o diploma é pesado para todos. Mas, para muitos, o peso não está só nos livros carregados, nas noites sem sono ou nas provas difíceis. O peso está na cor da pele que o carrega.