Desigual: A Escada Que Não Sobe
O mercado de trabalho brasileiro é uma escada. Para uns, ela é rolante, macia, levando direto ao topo. Para outros, especialmente para a população negra, é uma escada íngreme, com degraus quebrados, escorregadia, e que não leva muito longe.
Quase metade dos negros no Brasil ainda vive na informalidade. É aquela história: trabalha, mas não assina. Faz hora extra, mas não recebe. A taxa? 46% das mulheres negras e 45% dos homens negros estão nessa corda bamba sem rede de proteção. Enquanto isso, entre os não negros, a informalidade é 10 pontos percentuais menor.
E onde eles trabalham? Bem, nas 10 profissões mais bem pagas, os negros são apenas 27%. Já nas 10 com os piores salários, eles são 70%. Não é coincidência. É projeto.
E as mulheres negras? Ah, essas seguram o país nas costas. Quase 16% delas ainda são empregadas domésticas, muitas sem carteira assinada, ganhando em média R$ 950 por mês — R$ 461 abaixo do salário mínimo. Trabalham mais, ganham menos e ainda enfrentam o preconceito de raça e gênero, que as coloca no fim da fila.
Quando o assunto é chefia, a situação é ainda mais vergonhosa. Só 2,1% dos homens negros ocupam cargos de direção ou gerência. Entre os não negros, a proporção sobe para 5,6%. Ou seja, enquanto um em cada 18 trabalhadores não negros está no comando, entre os negros, esse número cai para um em cada 48.
E a desigualdade não para por aí. No segundo trimestre de 2024, o rendimento médio dos negros foi de R$ 2.392, enquanto os não negros recebiam R$ 4.008. As mulheres negras, então, vivem a maior disparidade: ganham R$ 2.079, menos da metade do que ganham os homens não negros, que recebem R$ 4.492.
Mas o golpe mais cruel é o que atinge ao longo da vida. Um trabalhador negro, dos 18 aos 65 anos, deixa de ganhar quase R$ 899 mil em relação a um não negro. E, se falarmos das mulheres negras em comparação com os homens não negros, essa diferença explode para R$ 1,4 milhão.
Dizem que o tempo cura tudo, mas, nesse caso, ele só amplia a ferida. A cada ano de experiência, a desigualdade se aprofunda, transformando o que poderia ser uma carreira ascendente em uma trajetória marcada por barreiras invisíveis, mas intransponíveis.
O que isso significa? Significa que, enquanto uns correm no conforto de uma esteira rolante, outros continuam tentando escalar uma escada que nunca sobe.