Mauro Mendes e a Ferida no Morro de Santo Antônio: Quando a Arrogância Sobe o Cerrado
O Morro de Santo Antônio, outrora um cartão-postal de Mato Grosso, agora ostenta uma nova “obra de arte” cortesã: uma estrada feita na base do improviso e da insensibilidade ambiental. Tudo sob a benção do governo Mauro Mendes, que parece enxergar na devastação um traço de progresso. O problema é que progresso, nesse caso, veio com uma retroescavadeira que se perdeu entre a paisagem e o respeito pelas leis.
Lá no alto do morro, onde a brisa deveria encontrar o silêncio, ecoam as lamúrias do Ministério Público e de ambientalistas. “Erro de execução”, disse o secretário Fábio Garcia, como quem justifica um tropeço no meio de uma orquestra. Ora, um “erro” que abriu feridas na unidade de conservação não deveria ser tratado como deslize. Não é questão de “buscar o melhor caminho”; é sobre não destruir o que não se pode refazer.
Faltou gestão, planejamento, e, talvez, um pouco de vergonha na cara. Antes de qualquer trilha ou asfalto, seria prudente respeitar o plano de manejo da área, inexistente até então. No lugar disso, avançaram com máquinas, ferindo a terra e a confiança da população. Para justificar a lambança, a velha desculpa do “bem público”: segurança para os visitantes. Mas desde quando a pressa justifica ignorar regras básicas?
O curioso é que o discurso oficial tenta revestir a destruição com um verniz de responsabilidade. “Não é uma estrada para carros, é para ambulâncias”, dizem. Ah, sim, claro. Quem vai reparar as cicatrizes abertas no solo? Ou o dano à paisagem que, ironicamente, é o principal atrativo do morro? Mauro Mendes e companhia seguem como escultores do absurdo, abrindo trilhas onde não há trilhos para o bom senso.
O Morro de Santo Antônio não é só um amontoado de pedras e árvores; é patrimônio histórico, cultural, e ambiental. É alma do cerrado e janela para o horizonte. Mas, para o governador, parece ser apenas mais um ponto no mapa pronto para ser riscado e redesenhado sem cerimônia.
Talvez, na próxima audiência, o governo traga não apenas promessas de contenção, mas também um plano de manejo verdadeiro – e um pedido de desculpas sincero. Até lá, o morro seguirá, ferido, como testemunha silenciosa do descaso de quem deveria protegê-lo.