O Fusca e a Revolução

Quando Pepe Mujica assumiu a presidência do Uruguai em 2010, não foi com pompa nem discursos grandiloquentes. Ele chegou do jeito que sempre foi: simples, direto e com os pés no chão – ou, melhor dizendo, no acelerador de seu velho Fusca azul. O carro, símbolo de sua humildade, parecia anunciar que aquela seria uma gestão diferente. E foi.

Pepe governou como viveu, fiel ao que acreditava. Em seu mandato, o Uruguai deixou de ser um pequeno país à sombra de seus vizinhos para se tornar um exemplo de progresso, tolerância e humanidade. Enquanto outros líderes buscavam engrandecer seus nomes, Mujica buscava engrandecer a vida do povo.

Sua primeira grande conquista foi a aprovação do casamento igualitário em 2013. Em um continente onde o conservadorismo ainda pesava como uma âncora, Pepe mostrou que amar não era crime, mas direito. Sob sua liderança, o Uruguai tornou-se um dos primeiros países da América Latina a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Todos têm o direito de ser felizes”, ele dizia. E o país, naquele momento, parecia sorrir com ele.

No mesmo ano, outro ato de coragem: a regulamentação da maconha. Mujica enfrentou o mundo ao propor algo que parecia impensável. Não era sobre incentivar o uso da droga, mas sobre tirar das mãos do crime organizado o poder que ele exercia sobre os jovens uruguaios. O modelo foi pioneiro e provocou debates globais, mas Pepe, com a paciência de quem plantou muitos pés de sonho, esperou que os frutos amadurecessem.

Pepe também olhou para os mais pobres. Durante seu governo, investiu na ampliação de programas sociais, no acesso à educação e em políticas públicas que garantissem uma vida digna aos esquecidos do sistema. Ele sabia que a verdadeira riqueza de um país não está no PIB, mas no bem-estar de seu povo.

E, claro, sua liderança transcendeu as leis aprovadas. Mujica encantou o mundo com sua postura humilde e suas palavras carregadas de sabedoria. Enquanto presidentes viviam em palácios, ele morava na mesma chácara simples de sempre, ao lado da esposa e de sua fiel cadela Manuela. Doava grande parte de seu salário e dizia que riqueza material era um fardo, não um troféu.

“Não sou pobre; sou sóbrio”, ele repetia, com o brilho nos olhos de quem não precisava de muito para ser feliz. E assim, o presidente do Fusca e das palavras sábias tornou-se um símbolo global de liderança ética, coerente e empática.

As conquistas de Mujica não foram apenas leis ou políticas; foram gestos que mostraram ao mundo que a política pode, sim, ser feita com alma. Ele encerrou seu mandato em 2015, mas o legado ficou. Um legado que nos lembra que liderar é, antes de tudo, servir.

Hoje, quando se fala de Pepe Mujica, não é apenas o presidente que se recorda, mas o homem que ousou sonhar com um país melhor – e transformou o sonho em realidade. No fim, o velho Fusca azul não era só um carro. Era um manifesto de que, às vezes, o mais simples é também o mais revolucionário.

João Guató

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