José Dirceu e a Cadeira do PT: Uma Crônica para Quem Entende de Encrenca

O PT está a todo vapor, ou pelo menos tenta parecer que está. O próximo congresso do partido, com a eleição para as novas Direções Partidárias em 6 de julho de 2025, soa como um ato de “autorreforma”, como quem revisa o próprio espelho e finge não ver as rachaduras. Para dar aquele ar de modernidade, teremos urnas eletrônicas – tecnologia que o partido defende com tanto fervor que deveria ser tema de samba-enredo.

Nada no Partido dos Trabalhadores é simples. O PT, que já nasceu com uma alma de arena romana, parece gostar de gladiadores à frente. E quem mais gladiador que José Dirceu? Se a presidência do partido fosse um ringue, Dirceu seria aquele lutador que entra sem camisa, cicatriz no rosto e um sorriso de quem já enfrentou coisa pior.

É preciso dizer o óbvio: Zé Dirceu não é para os fracos. Se fosse um personagem de novela, seria o anti-herói. Se fosse vinho, seria seco e de sabor encorpado – daqueles que você ou ama ou descarta na primeira taça. Mas, convenhamos, não se constrói um partido como o PT sem homens e mulheres capazes de carregar cruzes e levantar bandeiras pesadas.

Os críticos, é claro, já estão na fila para apontar seus “pecados originais”. “Mas ele é polêmico”, dizem. Ora, polêmico é o PT inteiro, não? Alguém acha que Lula saiu incólume das trincheiras? Que Dilma foi recebida com tapete vermelho? No PT, a polêmica não é um obstáculo; é um pré-requisito.

Dirceu, com sua experiência de guerrilha e articulação política, entende o partido como poucos. Ele sabe que o PT não é só “estrela” e discurso inflamado. É articulação, negociação, coragem de peitar adversários e, muitas vezes, reconstrução. Se o PT fosse uma cidade, Dirceu seria o arquiteto encarregado de levantar os prédios que desabaram.

E o que é a política senão uma grande reviravolta? Quem melhor para assumir a presidência do PT do que alguém que já viu o fundo do poço, mas não se deixou enterrar? Dirceu é como aqueles personagens que, mesmo com a história manchada, guardam um carisma inexplicável. Alguém que é capaz de virar o jogo, com a experiência de quem conhece as regras e as brechas.

Ele não é unanimidade, é claro. Mas, parafraseando Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra. Se o PT quer se fortalecer, precisa de um líder que, acima de tudo, compreenda suas contradições, aceite suas batalhas internas e esteja disposto a lutar com unhas e dentes – e, quem sabe, perder a camisa no processo.

Se a história do partido fosse escrita hoje, José Dirceu teria um capítulo só seu, com direito a nota de rodapé em letras garrafais: “Amado por uns, odiado por outros, mas nunca ignorado.” E, convenhamos, isso é tudo que se pode pedir de um presidente do PT.

Por isso, o que resta perguntar é: o partido quer um pacificador ou um estrategista? Se for a segunda opção, Zé Dirceu está aí. E não duvide: ele sabe o que fazer com a cadeira – e com o peso que ela carrega.

Agora, em tempos de crise e autofagia interna, o PT precisa de um estrategista com essa habilidade de articulação quase cirúrgica. E é aqui que Dirceu entra em cena. Ele é um político que pensa em três dimensões, enxergando o jogo de poder como um tabuleiro onde cada movimento importa – e onde recuar também é uma estratégia. É o tipo de líder que entende que reconstruir não é simplesmente colar os pedaços de volta; é preciso redesenhar a estrutura, repensar os fundamentos e criar algo que dialogue com os novos tempos sem perder a essência.

É claro que sua figura carrega cicatrizes. Sua história política é um catálogo de vitórias e quedas, de articulações geniais a escândalos que mancharam sua reputação. Mas, talvez, seja exatamente por isso que ele seja o nome certo para o momento. Quem melhor para liderar um partido em reconstrução do que alguém que já experimentou o auge e o abismo?

Dirceu também carrega o pragmatismo necessário para os tempos difíceis. Ele sabe que o PT não vai se reerguer apenas com retórica ou com saudosismo dos tempos de glória. É preciso negociar, ampliar alianças e, sim, tomar decisões que podem desagradar uma ala ou outra. E isso ele faz com a frieza de um jogador de xadrez que sacrifica uma peça para garantir o xeque-mate.

Talvez o maior mérito de José Dirceu seja sua capacidade de pensar grande enquanto administra o pequeno. Ele entende que um partido é feito de ideias e ideais, mas também de pessoas, e sabe como ninguém transformar conflitos internos em combustível para a máquina política. É o arquiteto que não teme sujar as mãos de cimento enquanto desenha a catedral.

A reconstrução do PT será uma tarefa hercúlea, disso ninguém duvida. Mas, com Dirceu no comando – ou ao menos como guia nos bastidores – o partido tem chances reais de encontrar um caminho que una história, presente e futuro. Afinal, se tem algo que José Dirceu sabe fazer, é transformar o impossível em estratégia e o caos em movimento.

João Guató

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