A Dança dos Inimigos
Por Pedro Heinrich Ramires
Ele me impressiona. Não pela força, mas pela fragilidade que carrega como um escudo. A cada dia, vejo seu corpo esquelético se arrastar pelas ruas, e a expressão de um homem que vive de miséria metafórica, um peso que a sociedade, na sua inabilidade introspectiva, insiste em naturalizar. Ele é produto de um mundo que, em sua busca incessante por grupos, acaba aprisionando a alma.
No início, a vida era uma promessa de coletividade. Grupos se formaram com a intenção de construir algo maior, uma utopia social. Mas o que era unidade logo se fragmentou em lados opostos. A diferença, que poderia ser celebrada, transformou-se em uma linha de batalha, onde as ideias se tornaram armas e a empatia, um relicário esquecido. Ele, que só queria pertencer, agora é um espectador do ódio que emana de cada esquina, como se a conversa se tornasse uma competição onde o perdedor é sempre aquele que não se alinha às verdades absolutas do outro.
E assim, preso nos instintos sociais, ele se vê diante de um paradoxo: a liberdade que não pode exercer. Para ser livre, precisa escolher um grupo, e cada escolha vem com suas correntes invisíveis. Para cada aliança feita, um novo ataque é convocado. Ele, em sua busca por aceitação, se torna alvo. Os inimigos são muitos, e as características que o definem, uma marca na carne. O que poderia ser uma jornada de autoconhecimento torna-se um labirinto de desespero, onde a tolerância parece morrer a cada dia.
No fim, ao observar a cena, pergunto a mim mesmo: ele sabe que é uma vítima de um jogo em que não pediu para participar? Ou será que, de alguma forma, encontrou um propósito nesse caos? Enquanto a vida continua a dançar a sua dança de desunião, ele se torna um eco das vozes que não se ouvem, dos pensamentos que não se compartilham. E mesmo em sua miséria, há uma luz tênue, uma resistência que me impressiona. Porque, no fundo, ele persiste. E, ao persistir, nos lembra que a luta pela conexão, apesar das feridas, nunca é em vão.