A Névoa da Independência: O 7 de Setembro em Porto Velho

Por Ozi Miranda

Em Porto Velho, o céu não parecia um palco para celebrações; era um quadro sombrio, uma cortina de fumaça que desfigurava o cenário festivo esperado para o 7 de Setembro. O Dia da Independência, que costumava ser celebrado com entusiasmo vibrante e desfiles escolares, seria este ano uma mera lembrança de um passado recente, envolto em uma neblina de incerteza e preocupação.

Na véspera, a cidade estava em um frenesi de preparações. As escolas, com seus alunos ensaiando marchas e coreografias, estavam prontas para prestar homenagem à pátria. Os pelotões de estudantes, organizados com esmero, aguardavam ansiosos pelo dia que os colocaria no centro das atenções. Mas a natureza tinha outros planos, e uma densa nuvem de fumaça, resultado de queimadas criminosas na Amazônia, se apossou do horizonte, roubando o brilho do sol e cobrindo Porto Velho com um manto escuro e opaco.

O Decreto Estadual n° 29.418, publicado no final de agosto, impôs uma pausa forçada às festividades. A Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental do Ministério da Saúde, em sua Nota Técnica N° 42/2024/SESAU-ASTEC, havia alertado sobre os riscos iminentes que a fumaça representava para a saúde, especialmente para as crianças e idosos, que estavam entre os mais vulneráveis aos efeitos prejudiciais da poluição do ar.

Os gestores das escolas, já acostumados a lidar com desafios inesperados, enfrentaram mais um: a necessidade de adaptar a celebração ao ambiente fechado. O ofício circular n° 02/2024/DPE/GAB/SEMED, datado de 29 de agosto, instruía a todos sobre a suspensão das atividades ao ar livre e a reorganização das festividades internas. Era uma medida necessária, mas que, inevitavelmente, diluía o espírito cívico do evento.

As ruas, que normalmente estariam repletas de crianças marchando e pais aplaudindo, estavam agora vazias e silenciosas. O ar estava pesado, carregado com uma mistura de poeira e tristeza. As famílias, que haviam se preparado para celebrar, se viram envoltas em um sentimento de frustração. O céu não oferecia o espetáculo de cores e vida que costumava anunciar a independência; em vez disso, oferecia um lembrete cruel dos desafios ambientais que enfrentamos.

Neste 7 de Setembro, a atmosfera de festa foi substituída por uma introspecção forçada. A memória das festividades durante a pandemia ainda estava fresca, e agora, como um eco distante, o som dos tambores e das fanfarras era substituído pelo murmúrio preocupante das conversas sobre saúde e meio ambiente. A fumaça não apenas obscureceu o céu, mas também a celebração do espírito nacional, deixando uma marca indelével no coração dos rondonienses.

O Dia da Independência deste ano serviu como um lembrete contundente dos impactos das ações humanas no ambiente e da necessidade urgente de proteger a saúde pública. Em meio ao manto escuro da poluição, a verdadeira celebração da independência foi adiada, aguardando um tempo mais claro e mais limpo para ser verdadeiramente honrada.

João Guató

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