A nova moeda para os BRICS: uma estratégia para a economia global em números

O mundo financeiro está vivendo um momento decisivo. A hegemonia do dólar, que dominou o comércio global por mais de um século, começa a ser questionada. A globalização e as tensões geopolíticas têm dado espaço a um movimento crescente por maior autonomia financeira, especialmente entre as economias emergentes. Nesse contexto, a proposta de uma nova moeda para o BRICS — bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — surge como uma estratégia ousada e fundamental para redefinir as regras do jogo econômico mundial.

A importância dessa mudança fica ainda mais clara quando consideramos os números de população e movimentação financeira que envolvem o BRICS, especialmente após sua recente expansão. Originalmente, o BRICS já representava 40% da população mundial e 25% do PIB global. No entanto, com a entrada de nove novos países — Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão — o bloco agora abrange mais de 50% da população mundial e pode representar até 35% do PIB global, segundo estimativas de analistas econômicos.

Essa ampliação significa um aumento significativo no volume de comércio e transações financeiras que circulam dentro do BRICS. Por exemplo, a Indonésia, com mais de 270 milhões de habitantes, a Malásia, com 33 milhões, e a Tailândia, com 70 milhões, são economias de grande porte na Ásia, cujas interações comerciais com os membros originais do BRICS têm se intensificado nos últimos anos. Além disso, países da África, como Uganda e o Cazaquistão, são importantes fornecedores de recursos naturais e mercados em expansão. A entrada desses novos membros fortalece o BRICS não apenas em termos demográficos, mas também econômicos, criando uma potência comercial de dimensões globais.

Com essa expansão, a movimentação financeira dentro do bloco aumentará consideravelmente. O comércio intrabloco, que já é robusto, deve crescer ainda mais com a criação de uma nova moeda comum. A estimativa de transações comerciais anuais dentro do BRICS pode ultrapassar 1,5 trilhões de dólares nos próximos anos, dado o volume de trocas comerciais e investimentos que o grupo movimenta atualmente. E, em um mundo cada vez mais multipolar, onde outras regiões, como a África e a Ásia, têm se mostrado em rápida ascensão, a criação de uma moeda própria seria a chave para facilitar o comércio sem as barreiras impostas pelo domínio do dólar.

A dependência do dólar tem um custo claro: as flutuações cambiais, a exposição a crises financeiras internacionais e o impacto das políticas monetárias dos Estados Unidos afetam diretamente as economias emergentes, como as dos países do BRICS. Em 2023, por exemplo, cerca de 80% das transações internacionais ainda eram realizadas em dólares, conferindo aos Estados Unidos um controle significativo sobre a economia global. A criação de uma moeda do BRICS poderia representar uma forma de reduzir essa dependência, permitindo que as nações membros do bloco realizem transações entre si de maneira mais eficiente e sem a necessidade de intermediários.

Mas qual seria a vantagem concreta de uma nova moeda para o BRICS? A principal é a independência financeira. Ao eliminar o risco da volatilidade do dólar e permitir uma maior fluidez nas transações internas, a moeda comum facilitaria o comércio entre os países membros, reduzindo custos de conversão de moedas e aumentando a estabilidade econômica. Além disso, o fato de que a nova moeda seria respaldada por uma das economias mais diversificadas e robustas do mundo — desde a produção agrícola e de recursos naturais no Brasil até a produção industrial e tecnológica da China — daria à moeda uma base sólida para competir no mercado internacional.

Considerando a ampliação do bloco e o peso econômico crescente dos novos membros, estima-se que a adoção de uma moeda comum poderia representar uma movimentação financeira de 1,2 a 1,5 trilhões de dólares por ano, com um volume de transações crescente à medida que mais países se unissem à iniciativa. Este movimento criaria um novo eixo econômico, onde os países do BRICS poderiam negociar livremente entre si, sem depender de moedas fortes como o dólar ou o euro. Esse novo sistema poderia também influenciar outros países em desenvolvimento, especialmente aqueles da África, América Latina e Ásia, a adotarem a nova moeda para facilitar o comércio com o bloco.

Além do impacto financeiro direto, a nova moeda serviria como um símbolo do fortalecimento do BRICS no cenário global. O bloco, ao ultrapassar a marca de 4 bilhões de pessoas em sua população combinada, se tornaria o maior mercado consumidor do mundo. Essa representatividade populacional ampliaria o poder de negociação do grupo, tornando-o uma peça central nas discussões sobre governança econômica global, desde as reformas no FMI até o papel das grandes corporações internacionais.

Portanto, a necessidade de uma nova moeda para o BRICS não é apenas uma questão de conveniência, mas uma tática fundamental para moldar o futuro econômico do mundo. Em um momento de crescente rivalidade entre potências e com o dólar perdendo gradualmente sua centralidade, o BRICS tem a oportunidade de criar uma alternativa financeira que desafie a hegemonia ocidental. A nova moeda seria um passo importante em direção a uma economia global mais equitativa, onde as nações emergentes ganham mais voz e poder, criando um sistema mais descentralizado e diversificado.

Com a liderança do Brasil no comando do BRICS em 2025, o país tem diante de si uma chance única de impulsionar esse movimento e de posicionar o Brasil como protagonista na redefinição da economia global. O novo bloco, com sua enorme base populacional e sua crescente influência financeira, tem o poder de redefinir as relações comerciais e de estabelecer um novo padrão econômico para o século XXI.

João Guató

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