A Teia de Interferências e Segredos: O Caso Braga Netto e a Colaboração Premiada

O ex-ministro da Defesa Walter Souza Braga Netto se vê novamente no centro de uma investigação da Polícia Federal, com novos elementos sugerindo tentativas de interferir nas investigações da Operação Lava Jato. O foco da apuração são os detalhes de um acordo de colaboração premiada firmado por Mauro César Barbosa Cid, que está colaborando com a Polícia Federal. A investigação ganhou novos contornos após a apreensão de um documento comprometedor, encontrado na mesa de trabalho de um assessor de Braga Netto na sede do Partido Liberal (PL).

O documento apreendido, segundo informações da Polícia Federal, contém perguntas feitas pelo general sobre o conteúdo do acordo de colaboração de Cid. As indagações estão destacadas em vermelho, indicando que houve um esforço claro para obter informações sigilosas relacionadas à colaboração, com o intuito de obstruir as investigações. “As perguntas foram feitas de forma a tentar entender o que foi revelado e como isso poderia impactar a continuidade da apuração”, afirmou uma fonte da Polícia Federal envolvida na investigação.

Em depoimento prestado à Polícia Federal em 5 de fevereiro de 2024, Mauro Cid confirmou que o general Braga Netto e outros intermediários tentaram, logo após sua soltura, descobrir o que ele havia revelado no acordo de colaboração. Cid relatou que as tentativas de contato se intensificaram devido às informações que estavam circulando na imprensa. “Ele não era oficial, mas tentou entender o que eu tinha falado. A imprensa estava falando muita coisa, e ele tentava entender o que eu tinha dito”, explicou Cid.

Cid afirmou que o contato foi feito, em sua maioria, por telefone. “Meu pai estava no Rio, eu estava em Niterói, ele em Brasília. Não posso confirmar se houve contato pessoal, mas por telefone foi uma constante”, contou o colaborador. Quando perguntado se os contatos tinham o intuito de obter informações sobre o acordo de colaboração, Cid não hesitou em confirmar: “Sim, ele tentou, de fato, obter essas informações.”

O depoimento de Mauro Cid foi corroborado por seu pai, Mauro César Lourena Cid, que também confirmou os contatos feitos por Braga Netto. Em depoimento prestado em 6 de dezembro de 2024, o pai do colaborador disse que, após a soltura de Mauro, o general entrou em contato para tentar entender o que havia sido revelado no acordo. No entanto, ele não se recordou se as conversas tinham relação direta com a colaboração premiada. “Eu não posso confirmar que os assuntos eram exclusivamente sobre o acordo, mas ele entrou em contato, sim”, disse Mauro César Lourena Cid.

A Polícia Federal, ao analisar os depoimentos e as evidências, concluiu que a hesitação de Mauro César Lourena Cid em confirmar a natureza dos contatos, aliada aos outros elementos probatórios, indica uma tentativa de interferência por parte de Braga Netto. “A falta de clareza e a contradição nas respostas dos envolvidos reforçam a tese de que houve uma tentativa deliberada de obstruir a investigação”, afirmou um delegado da PF.

O caso vem gerando repercussão não só pela gravidade das acusações, mas também pela natureza das tentativas de interferência. Segundo as investigações, Braga Netto buscou ativamente informações confidenciais do acordo de colaboração premiada, com o objetivo de entender melhor o que estava sendo revelado e de que forma isso poderia afetar as investigações em andamento. Isso levanta sérias questões sobre os limites da atuação de autoridades em casos envolvendo a corrupção.

A cada novo depoimento e a cada nova evidência que surge, fica mais evidente que as tentativas de obstrução não foram meros atos isolados. Ao contrário, elas parecem se encaixar dentro de uma estratégia mais ampla de tentativa de controle e manipulação das investigações. “Esse não foi um movimento isolado, mas parte de uma tentativa mais sistemática de interferir nas apurações”, afirmou um membro da equipe de investigação.

O caso Braga Netto é mais um capítulo nas investigações que envolvem figuras de alto escalão do governo e do Exército. A investigação continua a todo vapor, com novos desdobramentos aguardados, mas, por enquanto, o general se vê no centro de uma trama que pode ter implicações sérias tanto para sua carreira quanto para a confiança nas instituições brasileiras. O mistério permanece, e, enquanto o caso avança, as dúvidas e as suspeitas continuam a crescer.

João Guató

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