Abismo, o Prefeito de Cuiabá

Na história politica de Cuiabá tem um prefeito que já começou com apelido antes mesmo de esquentar a cadeira do Palácio Alencastro. Nem precisou tomar posse pra receber o batismo cuiabano: Abismo. Sim, senhor! Abismo, aquele que, segundo o povo, é o buraco onde a cidade vai cair daqui uns meses.

Mas vamos do começo, porque apelido em Cuiabá não é brincadeira de criança. É destino. É sentença. E não tem escapatória. Aqui, o sujeito pode até esquecer o CPF, mas o apelido? Ah, esse gruda que nem tatu no pau!

Quando a campanha começou, o homem era só promessa. Fez carreata, bandeirada, visitou bairro até onde Judas largou a alpercata. No Santurário, prometeu esgoto; na Morada do Ouro, falou em saúde de primeiro mundo; lá no Pedra 90, jurou que ia tirar o povo do poeirão e botar no asfalto liso.

O povo? Desconfiado, como sempre. “Esse aí tá mais perdido que cego em tiroteio”, dizia Dona Maria da Feira. “Vai é mandar nós tudo pro buraco.” E foi ali, naquele papo no ponto de ônibus da Praça Alencastro, que nasceu o apelido.

Prefeito Abismo, já ouviu falar? – brincou Seu João, ajeitando o chapéu.
– Quem? – perguntou o Zé do Pastel.
– Ué, o homem novo que vai governar nós! Vai jogar Cuiabá lá pra baixo.

A gargalhada foi geral. E pronto, pegou. Não adianta mais desfazer. Nem precisa do cartório, porque quem batiza em Cuiabá é o povo.

Agora, todo mundo só chama assim. No rádio, no bar, na fila do pão:
– Rapaz, e o Abismo?
– Diz que vai aumentar a passagem de ônibus.
– E nóis já tá no buraco antes de começar!

O prefeito eleito? Até tenta disfarçar. Sabe como é, fingir costume. Nas entrevistas, sorri meio amarelo, mas por dentro deve estar se perguntando: “Que buraco é esse que eu fui cair?”

E a cidade segue, meio que com um pé no abismo e outro na fé de que o apelido talvez seja só mais uma piada cuiabana. Porque, no fundo, todo mundo tem aquele fiozinho de esperança que o Abismo vire Escada. Ou Ponte. Ou qualquer coisa que tire Cuiabá do buraco.

Mas, por enquanto, seguimos na torcida. E no apelido. Porque, se tem uma coisa que o cuiabano não perdoa, é político sem apelido. Afinal, até onde se sabe, aqui o buraco pode ser fundo, mas o humor é sempre mais profundo.

João Guató

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