Abusos da Policia Militar Paulista
Na Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo, o cenário da violência se tornou um verdadeiro palco de tragédias cotidianas. Na última segunda-feira (2), o choque de uma ação policial chocou a cidade e reacendeu a ira de quem já vive, há muito, com a sensação de ser tratado como invisível.
O policial militar Luan Felipe Alves Pereira, de maneira brutal e impune, jogou um jovem do alto de uma ponte, um ato que, por si só, é uma brutalidade que não cabe em nenhuma narrativa de civilidade. Mas, como se o vazio de compaixão e justiça fosse uma constante, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) apareceu para lembrar que esse não foi um caso isolado.
Boulos, em seu discurso enfurecido, levantou sete exemplos de abusos cometidos pela Polícia Militar do estado de São Paulo, uma força que, nas palavras do parlamentar, parece agir como se a periferia fosse um espaço sem direito à dignidade. Entre esses episódios, o mais recente envolvia uma intimidação macabra no velório de um menino assassinado por PMs na Baixada Santista. Imagina o tamanho do desamparo de uma família que, no momento mais doloroso da perda, precisa ainda lidar com o peso de ameaças de quem deveria proteger a sociedade.
E o que dizer do caso de Gabriel Renan, 26 anos, assassinado pela PM, cujo único crime parecia ser ser sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, ex-integrante da Facção Central? Em um país onde o racismo estrutural ainda reina, Gabriel se tornou mais uma vítima de uma execução sem justificativa, em um contexto onde vidas negras e periféricas se tornam estatísticas no cálculo cruel de quem determina quem deve viver e quem deve morrer.
Boulos não poupa palavras: para ele, a conduta do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, apenas ratifica uma política de desumanização. “Tratam a população das periferias de São Paulo como lixo descartável”, disse ele, com a convicção de quem conhece a realidade de um povo que luta pela sobrevivência em um sistema que os marginaliza e os aniquila, tanto física quanto simbolicamente.
A indignação de Boulos é legítima, mas também é um reflexo de um clamor coletivo. A sociedade não pode continuar aceitando que uma ponte, um espaço público, se torne o palco de uma execução. Não pode aceitar que o luto de uma família seja interrompido por uma força policial que se esqueceu de sua missão: proteger a todos, sem distinção de classe, cor ou origem. E muito menos aceitar que os governantes e seus secretários, responsáveis pela segurança pública, se omitam diante da dor de uma população que, como já diz o velho ditado, “não é de hoje” que sente no corpo a marca da exclusão e da violência.
A luta por justiça, por fim, é também uma luta por humanidade. E, no caso de São Paulo, a ponte que separa os direitos da população periférica de uma polícia que parece agir como inimiga é o abismo da desigualdade, onde os mortos são os que não têm voz.