Ainda Estou Aqui
O palco era grande demais para uma só vida, mas Fernanda Torres sabia que as grandes histórias cabem até em espaços minúsculos — como uma lágrima que demora a cair. Naquela noite, a plateia estava inquieta, talvez por saber que testemunharia algo único. O drama de Ainda Estou Aqui, adaptado com precisão cirúrgica, parecia uma provocação à capacidade humana de suportar dores que, em outros tempos, seriam insuportáveis.
Fernanda era mãe e filha, sombra e luz, ausência e presença. Quando os primeiros fios de voz escaparam de sua garganta, a sala mergulhou num silêncio que não era comum, mas denso e acolhedor, como se os espectadores estivessem prontos para afundar com ela. Era um monólogo, mas Fernanda fazia parecer que havia dezenas de vozes em cena, sussurrando lembranças, gritos e esperanças.
O texto, com um peso quase físico, orbitava a perda. Não a perda de um objeto, mas de uma mãe. Uma mãe que fora gigante, depois pequena, depois saudade. Fernanda não interpretava, vivia. A cada palavra dita, sentia-se o vazio tomando forma, como quem molda o ar com as mãos. O público prendeu a respiração quando, ajoelhada no chão, ela repetiu: “Ainda estou aqui.”
A frase era uma pergunta, uma afirmação e um lamento ao mesmo tempo. Como se a personagem perguntasse ao mundo se sua existência ainda fazia sentido sem aquele porto seguro que a guiara desde criança.
O choro da atriz era seco, desidratado pela repetição de uma dor cotidiana. E, ainda assim, cada lágrima que escorria parecia conter um oceano de histórias. Quando a luz baixa realçou o rosto de Fernanda, o público sentiu o peso da vida num simples cerrar de olhos.
A cena final veio como um golpe lento: o silêncio absoluto. Fernanda, sentada no chão, sem maquiagem, sem figurino elaborado, sem grandes truques. Apenas ela e a memória. As palavras finais saíram tão baixas que a plateia precisou se inclinar para ouvi-las.
Ao fim, ninguém aplaudiu de imediato. Ninguém ousou quebrar o momento. Era como se o luto também fosse deles, e precisassem de um tempo para aceitar. Depois, uma explosão. Gritos, palmas e um “Bravo!” atrás do outro.
O prêmio de melhor atriz já não era uma dúvida, mas uma consequência inevitável. Não era apenas Fernanda Torres ali; era o retrato vivo do que significa ser humano.
E foi assim que ela, com suas palavras, lágrimas e silêncios, ensinou a todos que a arte não é só o que sentimos, mas o que nos faz lembrar que, mesmo quando perdemos tudo, ainda estamos aqui.