Ainda Estou Aqui: Um Filme que Nunca Vai Embora
Quando as luzes se apagaram e os primeiros acordes da trilha melancólica de Ainda Estou Aqui preencheram a sala, o público sabia que estava prestes a vivenciar algo maior do que um simples filme. A parceria entre Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello não entregava menos do que isso: uma experiência.
O filme, que é uma ode ao luto e à memória, tinha a simplicidade elegante de uma história que poderia ser a de qualquer um, mas que, nos detalhes, era profundamente única. Fernanda Torres e Selton Mello interpretam mãe e filho tentando sobreviver à ausência devastadora do patriarca da família. Não há vilões, não há reviravoltas grandiosas, mas há silêncios e olhares que dizem mais do que qualquer palavra poderia.
Walter Salles, conhecido por sua habilidade de transformar paisagens e relações em poesia visual, cria aqui um mundo onde cada detalhe importa. As cenas se desenrolam como páginas de um álbum de fotografias antigas: cheias de memórias, mas também de lacunas. Uma xícara deixada no canto da mesa, um rádio que toca baixinho, o som de passos num corredor vazio — tudo é impregnado de significado.
Selton Mello entrega uma performance contida, mas profundamente emocional. Como o filho que tenta cuidar da mãe enquanto lida com sua própria dor, ele é ao mesmo tempo forte e frágil. Fernanda Torres, por outro lado, explode na tela. Sua personagem transita entre o vazio de quem perdeu tudo e a teimosia de quem ainda insiste em existir. É impossível não se arrepiar com sua entrega visceral em cenas onde a ausência do marido parece tão presente quanto a própria casa em que vivem.
E é exatamente isso que torna o filme tão poderoso: a ausência é um personagem. Não se trata apenas da morte de uma pessoa, mas da sensação de que algo essencial foi arrancado, deixando os protagonistas navegando num mar de incertezas. Walter Salles conduz essa narrativa com a delicadeza de quem entende que o luto é uma jornada sem mapas, mas cheia de descobertas.
O filme termina como começou: de forma silenciosa. Não há uma solução fácil, mas há uma aceitação, uma compreensão de que, mesmo na dor, há beleza. Quando os créditos sobem, o público permanece em silêncio, como se precisasse de mais alguns minutos para retornar ao mundo.
Ainda Estou Aqui não é apenas um filme sobre perda. É um filme sobre o que resta quando tudo parece ter ido embora. É sobre os laços invisíveis que nos conectam e que, mesmo em meio à ausência, insistem em nos lembrar que ainda estamos aqui. E, com Fernanda Torres, Selton Mello e Walter Salles, a gente entende que a arte pode ser tão eterna quanto as memórias que carregamos.