Dito Bunda de Açúcar e o Bar do BPM

Em Rosário Oeste, coração da baixada cuiabana, a vida corre ao som do chiado das folhas de cana, do burburinho dos botecos e, claro, dos apelidos que a turma não perdoa. É o retrato de um lugar onde cada esquina guarda um causo, e cada causo tem um apelido afiado que nem faca de açougueiro.

Por aquelas bandas, tinha um sujeito famoso pelo melado que escorria das mãos. Dito, o mestre da rapadura, era conhecido por fabricar a melhor iguaria açucarada da região. O engenho dele, modesto, mas eficiente, ficava nos fundos do sítio, onde a cana virava ouro doce.

Rapadura de primeira! Derretia na boca, mas o temperamento do Dito… Ah, esse era mais amargo que fel. Bravo feito onça no cio, o homem era do tipo que bota leite na tigela da jaguatirica e ainda a chama de “Xaninho”. Ninguém se atrevia a brincar com ele.

Bom, ninguém a não ser os moleques da comunidade. Porque menino não respeita nem próprio medo, quanto mais aviso de mãe. Eles tinham um apelido secreto pra ele: Dito Bunda-de-Açúcar. Dizem que era porque o homem adoçava até o andar, mas ninguém tinha coragem de chamar na cara. Só cochichavam pelos cantos. E quando queriam caprichar no deboche, trocavam pra Bunda de Itemarati, referência ao açúcar mais vendido da cidade.

– Ô, Bunda de Itemarati tá vindo aí! – um cutucava o outro. E saíam desembestados pela rua, antes que Dito ouvisse.

Mas se a doçura de Dito era famosa, tinha também o outro lado da moeda. Na esquina da praça principal, o Bar do Pinto Mole – sim, esse era o nome – era comandado por um sujeito afeminado, alegre e cheio de trejeitos. O apelido dele? Ah, pra quê complicar? O povo batizou logo de BPM, as iniciais do bar.

– Hoje cê vai no BPM? – perguntavam com um sorriso sacana no rosto.

O dono do bar, esperto como ele só, fingia que não ouvia. A clientela? Sempre cheia. Porque, afeminado ou não, o homem sabia servir uma cerveja trincando e fazia uma batidinha de caju que até Dito Bunda de Açúcar elogiava… Mas só quando não tinha ninguém olhando, claro.

Rosário Oeste é assim: terra de apelidos inusitados e personagens que poderiam estar em qualquer novela. Só que aqui, não tem roteiro nem diretor. É a vida real, doce, amarga e cheia de risadas, como a rapadura do Dito e a cerveja do BPM.

João Guató

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