Evangelho de Maria Madalena: 13° Discípula

O capítulo 9 do Evangelho de Maria Madalena apresenta um momento crítico: o Salvador parte, e os discípulos são deixados com o desafio de continuar sua missão no mundo. A insegurança, a tristeza e o medo surgem diante da responsabilidade de pregar o evangelho do Reino. No entanto, Maria Madalena se levanta como uma liderança encorajadora, convocando-os à confiança na graça divina e à compreensão de que foram transformados em “seres humanos” no sentido pleno e espiritual.

À luz do Evangelho de Jesus de Nazaré, esse trecho revela elementos fundamentais da mensagem cristã: a liberdade da lei, a coragem na missão e a centralidade da graça na formação de uma nova humanidade.

“Estabeleça nenhuma regra além do que eu vos mostrei, e não se dê a criar leis como a um legislador, para que você não seja limitado por elas.”

Esta orientação do Salvador no Evangelho de Maria ecoa diretamente os ensinamentos de Jesus em seu ministério. Ele frequentemente confronta a rigidez da lei mosaica e a hipocrisia dos fariseus, que transformaram a lei em um fardo que aprisiona ao invés de libertar: 

– “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”(Marcos 2:27). 

– “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque atam fardos pesados e difíceis de carregar e os colocam sobre os ombros dos homens” (Mateus 23:4). 

Jesus não veio abolir a lei, mas cumpri-la (Mateus 5:17), ou seja, revelar seu verdadeiro propósito: a libertação e a vida plena. A orientação no Evangelho de Maria é clara: não criem novas regras que possam limitar a liberdade que o Salvador trouxe. A missão do discípulo não é criar uma nova religião baseada em códigos rígidos, mas viver e transmitir a liberdade do Reino de Deus. 

O Medo da Missão: “Se ele não O pouparam, como nos pouparão?”

Após a partida do Salvador, os discípulos expressam medo e insegurança diante da missão. Eles reconhecem que seguir a Jesus implica risco, sofrimento e rejeição. No Evangelho de Jesus, esse temor também é presente: 

– “Se o mundo vos odeia, saibam que primeiro odiou a mim” (João 15:18). 

– “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33). 

A missão cristã é marcada pelo desafio de viver em um mundo que rejeita o Reino de Deus. Os discípulos são enviados como “ovelhas no meio de lobos” (Mateus 10:16), mas não estão desamparados. Jesus promete que estará com eles até o fim dos tempos (Mateus 28:20). 

No Evangelho de Maria, Maria Madalena é a voz que lembra essa promessa. Ela se levanta em meio à tristeza e ao medo, trazendo uma palavra de encorajamento que ressoa com a confiança que Jesus sempre buscou inspirar em seus discípulos.

Maria Madalena: A Coragem da Discípula

“Então Maria, levantando-se, cumprimentou a todos e disse a seus irmãos: Não chorem e não sofram, nem sejam irresolutos, pois a Sua graça estará inteiramente com vocês e os protegerá.”

Maria Madalena, frequentemente retratada nos evangelhos canônicos como uma seguidora fiel de Jesus, assume aqui um papel de liderança espiritual. Ela não apenas consola os discípulos, mas os convoca à ação com base na confiança na graça de Deus. 

– Assim como em João 20:18, quando Maria Madalena é a primeira a anunciar a ressurreição aos discípulos, aqui ela novamente assume o papel de portadora da mensagem de esperança. 

Essa liderança não é baseada em autoridade hierárquica ou em leis, mas na experiência direta da graça e da transformação que Jesus operou. Sua voz é a voz de quem compreendeu profundamente a mensagem do Salvador: a graça é suficiente para sustentar a missão. 

Ele nos preparou e nos transformou em Seres Humanos

A transformação em “seres humanos” completa e verdadeira é central tanto no Evangelho de Maria quanto no Evangelho de Jesus. Essa frase aponta para a realização do ser humano conforme a vontade de Deus, uma humanidade restaurada à sua plenitude. 

– Em Jesus, o ser humano é convidado a abandonar a velha natureza marcada pelo pecado e a se revestir da nova humanidade, criada segundo a justiça e a santidade: 

Se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios 5:17). 

Jesus veio não apenas para salvar almas, mas para inaugurar uma nova criação, onde o ser humano vive em comunhão com Deus, com o próximo e consigo mesmo. No Evangelho de Maria, essa transformação é celebrada como o ápice da missão do Salvador.

Louvando a Grandeza: Voltar o Coração para o Bom

“Quando Maria disse isso, eles voltaram seus corações para o Bom e começaram a conversar sobre as palavras do Salvador.”

A missão cristã, tanto no Evangelho de Maria quanto no de Jesus, não é uma imposição de regras, mas uma vivência do Bem, que é Deus. Louvar a grandeza do Salvador e voltar o coração para o Bom é o primeiro passo para enfrentar o medo e a insegurança da missão. 

-“Amai ao Senhor, vosso Deus, de todo o vosso coração, de toda a vossa alma e de todo o vosso entendimento” (Mateus 22:37). 

A centralidade do amor a Deus e ao próximo é o coração da mensagem de Jesus. No Evangelho de Maria, esse amor é expresso pela confiança na graça que sustenta e transforma. A missão dos discípulos não é uma tarefa pesada, mas uma resposta ao amor que receberam.

A Liberdade da Graça na Missão

O capítulo 9 do Evangelho de Maria Madalena nos lembra que a missão cristã não é sustentada por regras humanas ou estruturas rígidas, mas pela graça que transforma e liberta. À luz do Evangelho de Jesus de Nazaré, essa passagem nos desafia a: 

1. Viver a liberdade do Reino— Não criar novas leis que limitem a experiência da graça, mas viver com coragem e fé. 

2. Superar o medo pela confiança— Mesmo diante da rejeição e das dificuldades, a graça de Deus estará presente. 

3. Abraçar a liderança do Espírito— Como Maria Madalena, ser líderes espirituais que encorajam e sustentam a comunidade na missão. 

4. Ser uma nova humanidade — Viver como novas criaturas, transformadas pelo amor e pela graça do Salvador. 

A missão dos discípulos, ontem e hoje, é anunciar o Reino que liberta, transforma e nos faz plenamente humanos, conforme a vontade de Deus.

João Guató

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