Lamento da Floresta Amazônica


Por Joaton Pagater Surui

Em tempos antigos, a nossa floresta Amazônica era uma mãe generosa. Ela nos abrigava em seu seio verde, onde os rios cantavam em correntes tranquilas e as grandes árvores dançavam ao vento, vestidas com os verdes mais profundos. O sol, um antigo aliado, apenas nos aquecia, sua luz era um abraço caloroso e não o beijo abrasador de hoje.

Mas agora, vejo a floresta em sua agonia. O céu que costumava ser um manto azul claro, agora é coberto por nuvens pesadas e carregadas de fumaça, uma cortina de tristeza que encobre a beleza que uma vez conhecemos. O calor que antes era um amigo carinhoso tornou-se um opressor cruel, derretendo não só as geleiras, mas também o coração de nossa mãe comum.

Os rios, que uma vez serpenteavam com a força e a vitalidade dos ancestrais, agora são leitos secos, rachados como a pele de um velho caçador que sofreu mais do que podia suportar. As águas que davam vida, que abençoavam nossos campos e saciavam a sede dos animais, agora são apenas memórias distantes, um eco de um tempo mais abundante.

A nossa floresta amazônica, nossa casa sagrada, murcha sob o peso do desespero. As árvores, que antes eram torres de sabedoria e força, agora se curvam sob a seca e a dor. Seus galhos, que em outros tempos balançavam ao ritmo de histórias ancestrais, agora são apenas sombras silenciosas, como se esperassem por um destino que não desejam enfrentar.

Os animais, companheiros fiéis que andavam ao nosso lado, agora vagam perdidos e famintos, sua luta por água uma súplica silenciosa que ecoa na vastidão de um mundo que não os reconhece mais. Seus olhos, uma vez brilhantes com a promessa de um amanhã melhor, agora estão opacos, refletindo o desespero de uma existência em perigo.

O ar que respiramos, que uma vez era puro e fresco, agora está saturado com o cheiro de fumaça, uma lembrança constante do que estamos perdendo essa luta para os colonizadores desumanos. Cada respiração é uma lembrança amarga de que o equilíbrio está se desfazendo, de que estamos respirando a própria essência do sofrimento que causamos.

Lamento, minha Mãe Terra com a nossa floresta, por todas as promessas quebradas e pelos sonhos desfeitos. Aquele que se chamava de guardião do mundo agora se tornou seu algoz, desobedecendo as leis que nos foram confiadas e ignorando os gritos silenciosos de um planeta em colapso. O homem não indígena, em sua vaidade, ultrapassou todos os limites, desafiando não só as leis da natureza, mas também o respeito que devemos à própria vida.

Onde estão aqueles que deveriam ser nossos representantes, os que deveriam ouvir o lamento da nossa floresta e agir com responsabilidade? Será que ainda há tempo para restaurar o equilíbrio, para reconhecer a importância de nossa conexão com este planeta frágil?

O meu lamento que ecoa pela Terra é também um chamado à ação. A floresta amazônica é nossa mãe, e a sua dor é nossa própria dor. Podemos ainda encontrar um caminho para a cura, para que possamos viver em harmonia novamente. Que o tempo da mudança chegue rápido, que possamos ser os curandeiros de uma Terra ferida com sua floresta devastada.

Que viva a natureza, que viva a esperança de um futuro onde a beleza e a vida possam florescer novamente. E que possamos ouvir o clamor da nossa Mãe Terra e responder com a reverência e a ação que ela merece.

João Guató

Pasquim Teológico: sua revista virtual das boas novas com acesso gratuito, de massa e democrático!

Você pode gostar...