Maduro 3.0: O Retorno do Mesmo
E quem disse que a América Latina não sabe fazer trilogias? Nicolás Maduro provou que é possível superar até Hollywood. Lá está ele, pela terceira vez, com a faixa presidencial atravessando o peito e a cara de quem acredita que, se a inflação não para de crescer, ele também não precisa parar de governar.
O evento, como sempre, foi um espetáculo. Coreografia de sorrisos no palco, aplausos meticulosamente ensaiados, e bandeiras tremulando em câmera lenta, como num comercial de margarina bolivariana. Maduro discursava com aquele ar de vendedor de erva milagrosa, prometendo que o remédio para todos os males estava prestes a chegar… em 2040, quem sabe.
A plateia, é claro, estava composta por duas categorias: os aliados fiéis (ou reféns diplomáticos, dependendo do ponto de vista) e os animadores de torcida profissional. O barulho era tanto que quase abafava o som do motor de um gerador, porque luz constante, convenhamos, é para amadores.
O momento mais esperado foi, obviamente, quando Maduro vestiu a faixa. Foi como se ele tivesse acabado de ganhar um reality show cujo único concorrente era ele mesmo. A multidão gritou, os foguetes explodiram, e as câmeras garantiram ângulos cinematográficos, enquanto a faixa tremia, talvez temendo o peso de mais promessas.
Enquanto isso, nas ruas, o povo assistia de longe – ou nem isso, já que a maioria estava mais ocupada na fila do pão. Dona Carmelita, por exemplo, comentou com a vizinha:
– Ele prometeu reconstruir a economia!
– Prometer é fácil – respondeu a outra. – Difícil é pagar pelo cimento com esses bolívares que não compram nem um tijolo.
Do outro lado do mundo, chefes de Estado mandavam mensagens educadas de “parabéns” e “boa sorte”, mas com aquele tom de quem manda convite para um casamento que não quer ir. Lá no fundo, alguns líderes pensavam: “Será que ainda vai dar tempo de pular do barco antes que afunde de vez?”
O evento terminou com Maduro agradecendo a confiança do povo e prometendo, pela enésima vez, que a Venezuela é o futuro. O problema é que o futuro, lá, parece um ônibus que nunca chega.
E assim se encerrou mais uma posse. Maduro, sorrindo e erguendo os braços, parecia pronto para encarar os próximos seis anos como se fossem um grande churrasco socialista – só que sem carne, porque essa já virou lenda. E o povo? Esse continua a viver a verdadeira trilogia: fila, fome e fé.
Resta saber se, no próximo mandato, Maduro vai finalmente entender que governar é um pouco mais complicado do que repetir discursos decorados. Mas, pelo andar da carruagem (e pela fila da gasolina), não parece que ele vai estrelar um quarto mandato tão diferente assim.