Mato Grosso e o Descompasso com o Mundo: A Cega Visão de Crescimento à Custa do Meio Ambiente

Mato Grosso, terra das grandes plantações e do gado de corte, é um símbolo do agronegócio brasileiro, mas também um dos maiores desafios ambientais do país. Ao mesmo tempo em que o estado se destaca pela produção de soja, milho e carne, a visão de seu governo, capitaneado por Mauro Mendes, revela um paradoxo alarmante: enquanto o mundo avança em direção a uma economia verde e ao cuidado com o meio ambiente, o estado parece resistir a essa mudança, preso a uma lógica de crescimento sem considerar as implicações ambientais.

É um descompasso evidente. Lá fora, os países desenvolvidos discutem políticas de carbono zero, energia limpa e conservação ambiental com urgência. As metas climáticas de diversas nações são ambiciosas e o conceito de economia circular está ganhando força. A sustentabilidade não é mais apenas uma palavra da moda, mas uma exigência de mercado e uma necessidade de sobrevivência. Investidores e consumidores internacionais estão cada vez mais atentos às práticas ambientais das empresas e dos estados com os quais se relacionam. A pressão global por práticas que protejam os ecossistemas e reduzam a emissão de gases de efeito estufa nunca foi tão grande.

No entanto, em Mato Grosso, o discurso parece estar anacrônico. O governador Mauro Mendes, em suas políticas e atitudes, segue uma linha que privilegia o crescimento do agronegócio a qualquer custo. Sua proposta de reduzir a criação de novas unidades de conservação e flexibilizar a legislação ambiental estadual, com a justificativa de que a regularização fundiária deve preceder a criação de áreas protegidas, revela um posicionamento claro: o futuro do estado, para ele, é uma questão de maximizar a produção, não de proteger o que resta da rica biodiversidade de Mato Grosso.

Essa visão, embora popular em certos círculos do setor agropecuário, não encontra respaldo no cenário internacional. O que vemos no mundo moderno é uma crescente valorização dos ativos naturais. Países como a União Europeia, a China e os Estados Unidos estão cada vez mais exigentes com as práticas ambientais de seus parceiros comerciais. O Brasil, por meio de seus estados e empresas, é constantemente cobrado por práticas que alinhem produção com preservação. A ignorância diante dos impactos da mudança climática e o descompromisso com o meio ambiente estão se tornando, na comunidade internacional, um fator de risco econômico. A imagem de um país que não protege suas florestas e seus biomas impacta diretamente sua credibilidade no mercado global, especialmente em um momento em que o mundo busca maneiras de mitigar os efeitos da crise climática.

No entanto, em Mato Grosso, o discurso parece estar em outra direção. A PEC proposta pelo governador, que limita a criação de novas unidades de conservação e permite que o governo receba doações de ONGs e entidades internacionais para financiar essas áreas, é um exemplo claro dessa contradição. Ao transferir para a iniciativa privada e para organizações externas a responsabilidade pela conservação do meio ambiente, o governo estadual não apenas abdica de seu papel de liderança, mas também ignora as pressões globais por um Brasil mais comprometido com o meio ambiente.

O agronegócio em Mato Grosso, embora uma potência econômica, não pode se isolar da realidade que se desenha globalmente. O estado é um dos maiores responsáveis pela preservação de biomas vitais, como o Cerrado e o Pantanal, que são reconhecidos mundialmente pela sua biodiversidade e importância ambiental. A destruição desses biomas, ou mesmo a sua degradação irreversível, terá consequências não apenas para o estado, mas também para o Brasil como um todo, impactando diretamente sua reputação no comércio internacional.

O que falta em Mato Grosso é um entendimento claro de que o crescimento econômico não pode ser desvinculado da sustentabilidade ambiental. A visão de um agronegócio que não se adapta aos desafios climáticos e não adota práticas regenerativas, como a agroecologia e a agricultura de baixo carbono, está ultrapassada e distante das exigências do mercado global. Não há mais espaço para uma produção que dependa do desmatamento ou da exploração predatória dos recursos naturais.

A verdade é que o modelo de desenvolvimento defendido por Mauro Mendes, e por muitos outros políticos focados em um agronegócio sem limites, não resiste mais à pressão internacional. O mundo já entendeu que é possível crescer sem destruir, desenvolver sem degradar, e produzir sem sacrificar o futuro do planeta. E é justamente essa lição que Mato Grosso precisa aprender, se quiser continuar a prosperar de maneira legítima, com base em uma produção que, além de ser rentável, respeite os acordos internacionais e, acima de tudo, garanta um futuro sustentável para as próximas gerações.

Mato Grosso tem, sim, potencial para ser um modelo de desenvolvimento sustentável, mas isso exige uma mudança de mentalidade, um alinhamento com o que o mundo espera e uma visão de longo prazo. A era do crescimento cego, sem preocupação com as consequências ambientais, já passou. Agora, o que se exige é uma integração entre economia e ecologia, uma parceria entre a produção e a preservação. Só assim, Mato Grosso poderá realmente ser o que sempre almejou: uma potência agrícola, mas também um exemplo de sustentabilidade no cenário global.

João Guató

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