Memórias da infância

Por João das Candongas

Ah, o bairro do Baú, em Cuiabá, nos anos 70! Um lugar onde a infância parecia não ter fim e as tardes se estendiam como um caloroso abraço. Entre as memórias mais deliciosas desse tempo, havia o inconfundível aroma do bolo de arroz da Dona Nita. O que poderia ser mais encantador do que a promessa de uma fatia desse manjar dos deuses?

A casa da Dona Nita era o epicentro do bairro, não apenas pelo aroma irresistível que emanava de sua cozinha, mas também pela fila de garotos ansiosos que se formava a cada tarde. Entretanto, o que tornava a espera pelo bolo tão especial não era apenas a expectativa do doce, mas o espírito criativo que o filho caçula de Dona Nita trouxe para o processo.

Esse menino, um verdadeiro líder nato, transformou a espera do bolo em uma festa. Em vez de simplesmente aguardar, ele organizava uma competição peculiar. Armados com uma revista Playboy — um adereço que, para nós, meninos da época, servia para dar um toque de humor à competição — nós participávamos do “Campeonato da Punheta”. E antes que você se assuste, esclareço que era apenas um jogo de palavras e criatividade: a competição envolvia ver quem conseguia lançar o ”esperma” mais longe, numa disputa amigável e bem-humorada.

A cada desafio, risos e gritos de entusiasmo preenchiam o ar, enquanto os meninos competiam para alcançar a marca dos 6,5 metros. O vencedor era coroadamente conhecido como o “Rei do Campeonato” daquele dia. Era uma disputa que, apesar de simples e inusitada, reunia a comunidade e criava memórias inesquecíveis.

Mas a verdadeira estrela do evento era, sem dúvida, o bolo de arroz da Dona Nita. Quando o forno finalmente liberava o aroma final, a competição cessava e os meninos, já exaustos e sorridentes, se reuniam para receber sua recompensa. Dona Nita, com um sorriso generoso e um pedaço de bolo quente para cada um, tornava o final da tarde uma celebração das pequenas vitórias e da amizade.

Cada fatia de bolo de arroz se tornava um símbolo da alegria compartilhada e da criatividade que tínhamos como crianças. E assim, no bairro do Baú, o aroma do bolo de arroz e as travessuras da competição eram os ingredientes secretos de uma infância que, apesar de simples, era rica em diversão e companheirismo.

Aquele momento, uma combinação de pequenas competições e um bolo irresistível, encapsulava a essência da infância: a capacidade de transformar o cotidiano em uma série de aventuras memoráveis. E assim, no bairro do Baú, cada tarde marcada pelo aroma do bolo de arroz da Dona Nita tornava-se um capítulo encantador na grande história das nossas infâncias.

João Guató

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