O Ano Novo Sob o Olhar do Calendário Judaico para 2025

Enquanto o calendário ocidental celebra o novo ano com uma contagem regressiva que parece apressada e cheia de expectativa, o calendário judaico nos ensina a olhar o tempo com mais reverência, introspecção e paciência. O Ano Novo, ou Rosh Hashaná, que em 2025 cairá entre os dias 25 e 27 de setembro, não é apenas a virada de um ano; é o momento de renovação espiritual, de reflexão profunda sobre o passado e de preparação para o futuro. O Rosh Hashaná é o começo de um ciclo sagrado que não só marca o início do ano, mas também um convite para a transformação interior.

O calendário judaico é lunar, mas seus meses e datas estão profundamente entrelaçados com a história do povo judeu e sua relação com o divino. Cada mês traz consigo uma energia particular, e o ano novo judaico, Rosh Hashaná, é um marco que encerra um ciclo de teshuvá (arrependimento) e abre espaço para o julgamento e a reflexão. Diferente do Ano Novo ocidental, que é muitas vezes uma celebração pública e festiva, o Rosh Hashaná é mais introspectivo, marcado por rituais que nos convidam a parar e refletir sobre nossas ações, nossos erros, mas também nossas virtudes.

Em 2025, o Rosh Hashaná será celebrado com um toque especial de renovação. O ano de 5785, segundo o calendário judaico, será um período que carrega consigo uma mensagem de teshuvá, de retorno. Não é apenas um retorno ao lugar físico, mas ao lugar interior, onde a alma se encontra com sua verdadeira essência. O processo de teshuvá é central ao Ano Novo Judaico: é o momento de se arrepender das falhas do ano que passou e buscar um caminho mais íntegro e justo para o futuro.

O som do shofar, o chifre de carneiro tocado durante Rosh Hashaná, é o grande marco dessa transição. Seu som profundo e potente quebra o silêncio do tempo e nos lembra da necessidade de acordar para a vida que se renova. O shofar é mais do que um simples instrumento: ele é um chamado para a mudança, uma convocação à ação, ao retorno à espiritualidade e à reflexão sobre nossas relações com os outros e com Deus.

O simbolismo de Rosh Hashaná não se limita à introspecção. A culinária também tem um papel sagrado na celebração. O apple with honey (maçã com mel), por exemplo, é um prato tradicional que simboliza o desejo de um ano doce e bom. Ao mergulhar a maçã no mel, o judeu não está apenas celebrando o sabor, mas também expressando o desejo de que o novo ciclo seja repleto de bênçãos e realizações. O pão doce, ou challah, que também faz parte da refeição de Rosh Hashaná, tem o formato de uma coroa, simbolizando a soberania de Deus e a esperança de que o reinado divino seja reconhecido por todos.

No entanto, o aspecto mais profundo de Rosh Hashaná é o chamado à responsabilidade pessoal. O Dia do Julgamento, que se estende para o Yom Kipur, que acontece dez dias depois, é a oportunidade de fazer uma introspecção verdadeira, de rever o caminho percorrido e de buscar a purificação de alma através do perdão e do arrependimento. O dia de Rosh Hashaná é, portanto, um início, mas também uma preparação para o fechamento do ciclo de julgamento em Yom Kipur, no qual a busca pela pureza é mais intensa.

Em 2025, o Rosh Hashaná será, talvez, uma oportunidade ainda mais significativa de reflexão para o povo judeu, dado o cenário global e as questões contemporâneas que exigem tanto da espiritualidade coletiva quanto da individual. Em um mundo que muitas vezes se vê absorvido pela pressa e pela falta de introspecção, o Rosh Hashaná nos convida a desacelerar, a parar por um momento e, em silêncio, escutar o som do shofar e da nossa própria alma.

Este é o chamado para começar novamente, para recomeçar a cada ano, não apenas com esperanças externas de mudança, mas com um compromisso sincero de transformação interna. Não é o número no calendário que define o início de um novo ciclo, mas a disposição de cada um para se conectar com aquilo que é eterno e divino, para fazer uma verdadeira teshuvá e seguir, com renovado vigor e humildade, o caminho de um ano abençoado.

Em 2025, o Rosh Hashaná nos convida a voltar às nossas raízes, a repensar nossas ações e a buscar, através do arrependimento e do perdão, um mundo mais justo, mais doce, mais repleto de paz e de harmonia. Assim, o Ano Novo Judaico nos ensina que, embora o tempo passe, sempre há a oportunidade de recomeçar e de transformar, porque o verdadeiro Ano Novo acontece dentro de cada um de nós.

João Guató

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