O Casamento e o Sequestro da Subjetividade

No palco de nossas vidas, onde cada ato e cada cena têm sua importância, o casamento se apresenta como um enredo intrincado que, muitas vezes, se transforma no sequestrador silencioso da subjetividade humana. O contrato de união, muitas vezes celebrado como uma celebração do amor e da cumplicidade, pode também se tornar uma armadilha para a essência única de homens e mulheres, forçando-os a desempenhar papéis que, muitas vezes, são mais condicionados do que verdadeiros.

O casamento é uma estrutura admirável em seu design social, um monumento de compromisso e estabilidade. No entanto, por trás das cortinas da cerimônia e das festas, há um jogo de sombras onde a subjetividade pessoal pode ser lentamente sequestrada. Ao assumirem um papel que muitas vezes é moldado pelas expectativas da sociedade e pelas tradições, os indivíduos podem ver suas identidades se enfraquecerem, transformando-se em caricaturas de si mesmos.

Imagine, por exemplo, uma mulher que sempre amou a liberdade dos seus próprios pensamentos e a expressão artística de sua criatividade. No entanto, ao se casar, ela pode se encontrar em um cenário onde suas aspirações são reduzidas a um mero complemento do papel de esposa e mãe. A sua subjetividade, com todas as suas nuances e complexidades, é muitas vezes reduzida a uma moldura que não lhe pertence completamente.

Da mesma forma, um homem que encontrou alegria na autonomia e na busca por suas próprias aventuras pode ver sua essência ser capturada pelo rígido protocolo das responsabilidades e expectativas impostas pelo casamento. As próprias áreas de prazer e introspecção são sufocadas pelos compromissos e pela necessidade de desempenhar papéis predefinidos. A sua subjetividade se perde nas engrenagens do cotidiano, reduzida a uma sombra do que ele realmente é.

Neste teatro, o casamento muitas vezes opera como um sequestrador sutil, exigindo que homens e mulheres troquem suas verdadeiras identidades por versões ajustadas às convenções e às expectativas sociais. As peculiaridades que antes floresciam em sua liberdade agora são comprimidas dentro de molduras estreitas, onde o autêntico desejo e a singularidade do ser se tornam luxos raros.

A subjetividade, essa parte essencial e íntima de quem somos, é um bem precioso que muitas vezes é sacrificado em nome da harmonia e da conformidade social. Em vez de viver a plenitude da vida como indivíduos plenos, muitas pessoas encontram-se em um espaço onde suas identidades são definidas mais por convenções e compromissos do que por sua própria verdade interna.

No entanto, não se trata apenas de uma crítica ao casamento, mas de um convite para refletir sobre como podemos reconfigurar nossas relações para que respeitem e promovam a autenticidade individual. Se o casamento é visto como uma prisão, é essencial que busquemos as chaves para abrir as portas da subjetividade, permitindo que a essência de cada pessoa seja não apenas reconhecida, mas celebrada.

A verdadeira parceria no casamento deve ser um espaço onde a subjetividade não é sequestrada, mas valorizada. Deve ser um espaço onde homens e mulheres possam manter suas essências únicas, onde a união não signifique perder-se, mas encontrar uma nova forma de expressão e crescimento conjunto. Afinal, a plenitude da vida reside na capacidade de cada um se manter fiel a si mesmo, mesmo enquanto compartilha o palco com outro ser.

João Guató

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