O Morro de Santo Antônio: Patrimônio de Cuiabá
Se Cuiabá tivesse um altar para os seus deuses, o Morro de Santo Antônio seria o mais sagrado dos altares. Lá de cima, o cerrado se desenrola como um tapete infinito, e a cidade parece um desenho bordado pelo tempo. Quem vê o morro hoje, quieto e imponente, talvez não perceba que ele guarda em seu silêncio o eco de tantas histórias, um testemunho vivo da cultura e da identidade cuiabana.
Dizem que no século XVIII, era do alto do morro que os exploradores buscavam orientação, enxergando no horizonte sinais de riquezas escondidas nas terras do centro do Brasil. Foi ali que começaram a enxergar não só ouro, mas a possibilidade de uma cidade – Cuiabá – que cresceria como um coração pulsante no cerrado. Desde então, o Morro de Santo Antônio se tornou farol e guardião, testemunha do vaivém de bandeirantes, escravizados, viajantes e dos primeiros cuiabanos.
Mas o morro não guarda apenas histórias de conquista. Ele também é um altar de espiritualidade. Subir suas trilhas é, para muitos, uma peregrinação. No passado, era comum ouvir que as orações feitas do topo do morro chegavam mais rápido aos ouvidos de Santo Antônio, o padroeiro que deu nome à colina. Até hoje, o morro recebe visitantes que buscam, mais que vistas, conexão com algo maior: a terra, a fé e a história.
Culturalmente, o Morro de Santo Antônio é um espelho de Cuiabá. Sua vegetação resiliente, que floresce mesmo na estiagem, lembra o espírito dos cuiabanos: gente que enfrenta o calor com humor, que faz festa com o pouco e que vê beleza na simplicidade. É ali que a memória da cidade se encontra com sua identidade. O cerrado que cobre o morro é o mesmo que inspirou poesias e canções; é o palco natural de histórias contadas à sombra das árvores, ao som das cigarras e do rio que corre ao longe.
Hoje, o morro é mais que um ponto geográfico. É um símbolo. Tombado como patrimônio histórico em 2006, ele é uma declaração viva de que a cidade reconhece suas raízes. O tombamento não foi só um ato burocrático, mas uma promessa de que a paisagem do cerrado, os vestígios históricos e o valor cultural do lugar seriam protegidos para sempre. Proteger o morro é proteger a alma cuiabana, sua conexão com o passado e seu sonho de futuro.
Mas proteger o morro não é apenas um dever legal; é um compromisso afetivo. Cada trilha, cada pedra, cada arbusto que resiste no solo árido carrega um pedaço de quem somos. Ignorar o valor do Morro de Santo Antônio é ignorar o que nos torna únicos. É esquecer que ali, em meio à poeira e ao vento, está a identidade de Cuiabá, uma cidade que aprendeu a se reinventar sem perder sua essência.
Enquanto o morro estiver lá, firme como sempre esteve, ele continuará sendo um lembrete silencioso: somos parte dessa terra. E se queremos que a nossa história siga viva, é nossa responsabilidade cuidar desse pedaço sagrado do cerrado, guardião das memórias e das esperanças de Cuiabá.