O Plano do General do Punhal de Prata
Na penumbra de uma sala burocrática, com vista para os salões do poder, um general da reserva, Mario Fernandes, rabiscava planos que poderiam sair direto de um romance de espionagem. Mas não era ficção. Era o Brasil real, onde a tinta das canetas ministeriais tentava ser substituída pelo aço das baionetas.
Fernandes, número dois de um ministério-chave no governo de Jair Bolsonaro, elaborou, com frieza cirúrgica, uma minuta que detalhava como um “Gabinete Institucional de Gestão da Crise” entraria em ação. O nome pomposo era um eufemismo para gerenciar o caos de um golpe de Estado que, no papel, começaria com assassinatos – do presidente eleito Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
O Jogo dos Generais
No centro do tabuleiro, Augusto Heleno, figura carimbada do Gabinete de Segurança Institucional, seria o cabeça do tal gabinete. Braga Netto, vice de Bolsonaro na chapa derrotada de 2022, cuidaria da coordenação-geral. O plano: instituir a “normalidade” entre janeiro e maio de 2023, sob a bandeira da “Pacificação Nacional”.
Os detalhes impressionam. A minuta previa não apenas o controle das Forças Armadas, mas também a prisão preventiva de ministros do STF considerados “geradores de instabilidade”. E se isso soa familiar, é porque é: roteiro de golpes de Estado mundo afora, rebatido ao gosto local.
Os Bastidores da Conspiração
Com Fernandes, outro personagem surge: Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel com um gosto particular por planilhas detalhadas. Em seus papéis, cinco blocos friamente organizados listavam tudo, desde “fatores geradores de instabilidade” até o “controle dos principais veículos de mídia”.
Na visão de Lima, a crise institucional não era problema, mas oportunidade. A “instabilidade do STF” e as “tendências atuais” eram, para ele, pontos a serem explorados. Um novo pleito eleitoral seria conduzido sob “segurança”, claro, do próprio grupo golpista.
O Golpe que Não Foi
Se faltava uma cereja nesse bolo de absurdos, estava na própria origem do plano. Segundo a PF, a minuta foi impressa no Palácio do Planalto, um lugar onde conspirações não deveriam nascer. Mas ali estavam as impressoras oficiais, carimbando o sonho autoritário de transformar o Brasil num jogo de xadrez, onde as peças seriam movidas ao bel-prazer de poucos.
A operação da Polícia Federal deu nome ao caso: “Pacificação Nacional”. Irônico, pois pacificação alguma viria de um esquema que previa vidas descartadas, controle absoluto e a destruição da democracia.
O Fim da Linha
Agora, Fernandes, Lima e outros cúmplices estão presos. Os papéis apreendidos, ao invés de legitimarem suas ações, os entregam. Entre tabelas e frases, o Brasil vê não só o fracasso de uma trama, mas o retrato de uma época onde o poder não bastava; era preciso dobrá-lo à força.
Como dizia o saudoso Paulo Henrique Amorim: “É o Brasil, minha gente. Um país onde a realidade não é apenas mais estranha que a ficção. É mais perigosa.”