Bar do PM em Rosário Oeste

Na cidade de Rosário Oeste, lá onde o Mato Grosso se abre em portais pra Amazônia, Dom Aquino Corrêa, o velho bispo que governou o Mato Grosso, tinha nomeado aquele canto como a porta de entrada da floresta amazônica.

A cidade de Rosário Oeste com ar bucólico e um lugar onde a simplicidade e a natureza se encontravam num abraço eterno nos ritmos das águas do Rio Cuiabá. E foi nesse recanto que surgiu o Bar do PM, um ponto de encontro que logo se tornaria o coração pulsante da cidade.

Era um bar simples, de uma casa de pau a pique coberta de palha de babaçu, com mesas rústicas de madeira debaixo de frondosas mangueiras. As mangueiras no quintal do Bar do PM, que implementou essa maravilha foi o engenheiro agrônomo da Empresa de extensão rural do estado, EMATER, Marinho, um homem de visão e mãos hábeis, que sabia conversar com a terra e o e via no cultivo da manga uma alternativa econômica e ecológica para a cidade. Ali, a cerveja era sempre gelada, e os causos corriam soltos como os rios da Amazônia que corre para o mar.

O bar do PM ficava estrategicamente próximo ao quartel da Gloriosa Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, que era uma das instituições mais importantes da cidade. Muitos soldados, cansados dos plantões, encontravam ali um refúgio para a alma. Daí o nome, pensavam muitos: Bar da Polícia Militar (Bar do PM). Um tributo aos policiais que ali se reuniam após o trabalho duro. Mas a verdade era outra, mais pitoresca e inesperada que causo de lobisomem em sexta-feira Santa.

O dono do bar era Valter Boca Mole, um homem conhecido de todos na cidade, neto de um certo “Dito Bunda de Açúcar”, figura peculiar da cidade. Valter, com sua identidade feminina assumida, era um ex-seminarista que quase havia sido consagrado padre da ordem dos franciscanos. Deixou o seminário quando se apaixonou por um colega seminarista, e juntos decidiram viver em união conjugal. Tinha uma história de vida tão rica e diversa quanto as terras que circundavam Rosário Oeste.

Para inaugurar o bar, Valter Boca Mole organizou uma festa que ficou na memória de todos. Em meio a risos e copos tilintando, subiu ao improvisado palco e, com sua voz mansa, fez um discurso que misturava nostalgia e solenidade. Revelou, com um brilho malicioso nos olhos, que o nome do bar não era uma homenagem aos militares, como muitos pensavam, mas sim aos homens de “pinto mole”. O Bar do PM era, na verdade, um recanto para aqueles que não tinham o lábio apagado, um lugar onde se nutria o vazio deixado pelas agruras da vida.

A plateia ficou em silêncio por um momento, absorvendo a revelação. O presidente da câmara municipal, Zeca Pé de Cabra, que sempre tinha uma pergunta na ponta da língua, não se conteve e indagou se os soldados da PM que frequentavam o bar também faziam parte dessa “irmandade”. Valter, sem pestanejar, garantiu que todos eram bem-vindos e que sim, faziam parte dos legionários do Bar do PM.

Aquele foi um momento de transformação para a bucólica cidade de Rosário Oeste. O Bar do PM não era apenas um local de encontro, mas um símbolo de aceitação e camaradagem. Ali, sob as mangueiras e a brisa da floresta, políticos, lideranças rurais e homens de bem se reuniam, não só para beber uma cerveja gelada, mas para compartilhar histórias, risos e uma cumplicidade rara de se encontrar em tempos de bolsonaristas.

Hoje, além da cerveja gelada e das boas conversas, o bar ainda sobrevive oferecendo também o serviço de manicure. Nos finais de semana, os legionários da irmandade do Bar do PM vão lá para descravar as unhas, cuidar da aparência e tomar uma cervejinha bem gelada.

Rosário Oeste, com suas tradições e modernidades, continua sendo a porta da Amazônia, um lugar onde a vida segue seu curso natural, com a simplicidade e a riqueza de seus habitantes.

E no centro de tudo, o Bar do PM brilha como um farol de humanidade, onde Valter Boca Mole, com seu coração aberto e sua visão de interculturalidade para promover diálogos entre as diferentes identidades mato grosense, mostra que a verdadeira força de um homem não está no seu vigor físico, mas na sua capacidade de acolher e entender o próximo como carinho, amor fraternidade.


Nota do Cronista

Somente 10% desta narrativa é mentira, mas 90% se tiver alguma conexão com a realidade é mera coincidência. Dedico essa crônica ao Ex-Prefeito de Rosário Oeste, Medico Cardiologista dos Bons, Joemil Araújo, ao engenheiro Antonimar Marinho, homem que muito ajudou a pensar o desenvolvimento econômico e social de Rosário Oeste, e às famílias Norberto e Loureiro.

João Guató

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