Os Homens Invisíveis

Eles estão por aí, aos montes, mas ninguém os vê. São os “Homens Invisíveis” da fertilidade. Ao redor do mundo, a ciência dos nascimentos é quase toda focada nas mães. Desde o registro do primeiro choro, os dados parecem carregar um viés silencioso: o pai, por ali, vira um detalhe. Ao menos é o que mostram as estatísticas e as pesquisas que, ironicamente, se esquecem de olhar para a metade do processo.

Vejamos o caso brasileiro. Quando se discute infertilidade, o que geralmente vem à tona são exames e mais exames das futuras mamães. Só que 40% dos casos de infertilidade no Brasil são atribuídos aos homens. Sim, quase metade. E enquanto nas clínicas de fertilização as mulheres se submetem a tratamentos, exames e injeções hormonais, os homens muitas vezes nem são mencionados, como se o problema nem passasse por eles.

Mas por que, afinal, essa dificuldade em entender a fertilidade masculina? Em primeiro lugar, existe um problema estrutural de coleta de dados. Ao registrar um nascimento, nosso sistema coloca quase toda a carga de informações no histórico de fertilidade da mãe. Na prática, significa que sabemos bastante sobre quantas vezes a mãe foi mãe, mas muito pouco sobre quantas vezes o pai foi pai.

Essa “invisibilidade” dos homens no processo não é meramente uma questão burocrática. Ela também reflete um tabu persistente, alimentado pelo mito da masculinidade e da virilidade sem fim. No fundo, a sociedade ainda não se acostumou com a ideia de que homens podem ser inférteis. E essa “cegueira cultural” tem um preço alto.

No Brasil, por exemplo, a infertilidade masculina é muitas vezes associada ao uso excessivo de álcool e drogas, à obesidade e ao estresse, problemas comuns em várias faixas etárias. Mas existe também a questão dos problemas genéticos e hormonais, além de complicações causadas por infecções como caxumba e doenças sexualmente transmissíveis. E quando esses fatores entram em cena, o peso da responsabilidade é quase sempre jogado no colo das mulheres.

Os “Homens Invisíveis” continuam, de certo modo, no campo da sombra. E enquanto os números não incluem sua parte no quebra-cabeça, seguiremos entendendo apenas metade da história da fertilidade humana. Como diria um desses senhores anônimos que andam por aí, “parece que, pra muita gente, basta ser pai só no registro e no nome”.

Talvez, um dia, nosso país decida mudar essa narrativa, trazendo os homens de volta ao mapa da fertilidade, e, quem sabe, descobrindo o que realmente está acontecendo com eles. Até lá, nossos “Homens Invisíveis” seguirão firmes, invisíveis e em silêncio – mas nunca ausentes.

João Guató

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