Os ‘Lindos Cristãos’ e o Bigode Dourado de Trump
Não é preciso acreditar em profecia para entender a devoção dos evangélicos brancos ao mito laranja. Donald Trump, a.k.a. “o homem que desafia o bom senso”, conseguiu novamente o milagre de juntar uma turma que acredita mais nele do que no próprio Espírito Santo.
Diz-se que pastor Charles Stock, da Life Center, perguntou dias antes da eleição: “Como Jesus votaria?”. E que tal raciocínio metafísico deu origem a um fervor coletivo por Trump, o líder “imperfeito que faz coisas boas” (leia-se: falir algumas empresas, mentir descaradamente e, claro, espalhar fake news com a sutileza de uma carreta desgovernada).
Quando Stock fala do republicaníssimo com tanto zelo, parece que estamos ouvindo uma profecia bíblica: “Acabe e Jezabel” de um lado (talvez Kamala e Biden), e de outro o escolhido, aquele que enfrenta tudo — imprensa, verdade e até o bom gosto — com uma coragem bíblica. Afinal, por que os evangélicos brancos amam Trump tanto quanto um flamenguista ama uma vitória contra o Vasco? Isso já é questão para os maiores estudiosos da fé.
Sabe-se que oito em cada dez evangélicos brancos nos EUA veem Trump como o salvador da pátria, apesar de ele próprio ter se declarado cristão com a mesma emoção com que você declara seu amor por impostos. Mas isso não importa! Para eles, Trump é o macho alfa, defensor da masculinidade tradicional. Eles querem o “strongman”, o fortão que não se curva — muito menos diante de críticas. E assim, não importa se sua conduta lembra mais um Caim do que um Abel. Ele é o cara.
Trump chamou a todos esses devotos de “lindos cristãos” e prometeu: “Mais quatro anos e tudo ficará bem. Vocês nem terão mais que votar!”. Claro que ninguém sabe o que ele quis dizer com isso, mas quem se importa? O que importa é que, no meio desse teatro todo, a palavra é o que menos importa. E lá estão eles, aclamando o futuro. Ou seria o passado?
O republicano também apostou num discurso poderoso, à la juiz conservador. Porque o que esses evangélicos amam mais do que a Bíblia é uma Suprema Corte que diga “não” ao aborto. Trump, esperto como ele só, tratou de encher o tribunal de juízes que pensam igual. E não é que deu certo?
Em tempo: já tem gente sugerindo um novo slogan para a campanha do próximo ciclo eleitoral. Que o “MAGA” — Make America Great Again — vire “MACA”, Make America Christian Again.
E assim, o trator Trump segue. Os “lindos cristãos” vão caminhando atrás dele, como quem segue um pastor… ou, talvez, um ilusionista muito talentoso.