Por Que Somente a Mãe Gera uma Criança?
Era um fim de tarde tranquilo, o céu tingido de laranja e as sombras longas que preenchiam a sala com uma calma silenciosa. Eu estava ali, sentado no sofá, tentando relaxar depois de um dia cheio, quando minha filha, com seus quatro anos, se aproximou com aquele olhar curioso, como se estivesse prestes a me fazer uma das perguntas que sempre me pegam de surpresa.
— Papai, por que só a mulher pode ter um filho? O homem não pode?
A pergunta dela, simples e direta, me pegou de surpresa. Como explicar algo tão complexo a uma criança tão pequena? Eu, adulto, com todas as respostas prontas que a vida me deu, vi-me diante de algo desafiador: como dar uma resposta que fosse ao mesmo tempo sincera e acessível, sem perder a ternura e a leveza que o momento pedia?
Pensei um pouco. Naquela idade, a mente da criança é um território onde as perguntas nascem de uma tentativa de ordenar o mundo. Ela não sabe ainda sobre as complexidades do corpo humano, mas já percebe que o mundo ao seu redor funciona de um jeito diferente dependendo de quem está envolvido. No nosso caso, ela sabia que tanto o papai quanto a mamãe desempenham papéis diferentes, e essa diferença a intrigava.
Então, tentei responder de uma maneira simples, mas que fizesse sentido para a mente dela:
— Filha, a mulher tem um lugar dentro do corpo dela chamado útero, que é onde o bebê cresce até ficar pronto para nascer. O homem tem outras partes importantes, mas não tem esse lugar especial. Então, é a mamãe que pode gerar o bebê dentro de si.
Ela me olhou com atenção, e por um instante, parecia que estava processando aquela informação. Mas logo, como quem tem uma curiosidade insaciável, fez outra pergunta:
— Mas por que o homem não tem o útero, papai?
Eu respirei fundo, pensando na melhor forma de simplificar ainda mais, e continuei:
— Bem, filha, a natureza fez assim. O homem e a mulher têm corpos diferentes, com funções diferentes. O homem tem outras coisas que ajudam a cuidar do bebê, mas a parte de gerar e carregar o bebê é com a mamãe.
Ela pareceu satisfeita, mas, como sempre, a mente de uma criança não para por aí. Quando achei que ela já tinha guardado suas perguntas, ela olhou para mim com um ar mais sério e fez uma nova questão, que me pegou de surpresa:
— Papai, por que tem água na barriga da mamãe?
Essa pergunta foi ainda mais desconcertante, mas, ao mesmo tempo, me lembrou como as crianças associam tudo a imagens e conceitos que têm em seu universo cotidiano. O “porquê” da água na barriga de sua mãe não era uma questão científica, mas um mistério que ela tentava entender à sua maneira.
Pensei por um momento. Como explicar que a água na barriga da mamãe é, na verdade, o líquido amniótico que protege o bebê enquanto ele cresce, de uma forma que ela conseguisse entender? Como traduzir a biologia em algo que fizesse sentido para aquela criança tão pequena? Então, mais uma vez, busquei simplificar a explicação:
— Filha, dentro da barriga da mamãe tem um líquido, que se chama “líquido amniótico”, que ajuda a proteger o bebê e dar um espaço confortável para ele crescer. Esse líquido, um pouquinho de água, ajuda o bebê a se mover e a se sentir seguro enquanto cresce na barriga da mamãe.
Ela ouviu atentamente, pensativa. Eu podia ver que, em sua mente, aquele “porquê” estava começando a fazer algum sentido. O mundo que antes parecia tão grande e cheio de mistérios estava, aos poucos, ganhando forma para ela.
Naquele momento, me dei conta de como as perguntas das crianças são uma verdadeira processo de ensino e de aprendizagem. Cada pergunta é uma chave, que abre portas para um universo de descobertas. Para uma criança de quatro anos, não há mistério que não precise ser resolvido, e nenhuma dúvida pequena demais para não ser importante. A mente delas é feita de curiosidade pura, que não aceita respostas complexas, mas sim aquelas que sejam capazes de dar uma ordem ao caos do mundo.
E, embora eu tenha dado uma resposta simples, sabia que a verdadeira aprendizagem não estava nas palavras, mas na maneira como elas nos impulsionam a ver o mundo através dos olhos de quem está começando a entender a vida. A resposta, na verdade, era apenas o começo de um caminho que ela percorreria, questionando, descobrindo e se maravilhando com tudo o que o mundo tem a oferecer.
Em cada uma dessas perguntas, ela me ensinava algo fundamental: o aprendizado é um processo contínuo, sem pressa de chegar ao fim, e cada resposta é uma construção, uma peça que se encaixa, mas que também abre espaço para novas perguntas. Assim, seguimos, papai e filha, juntos nessa caminhada de descobertas, onde cada dúvida é uma oportunidade de aprender mais, de entender melhor e de crescer.