Porto Velho Sob Nuvem de Fumaça: O Drama Ambiental da Capital de Rondônia
Porto Velho, a capital do Estado de Rondônia, está imersa em um pesadelo ambiental que se desdobra a cada dia. A cidade, com seus 460 mil habitantes, é agora o epicentro de uma crise de poluição que desafia a capacidade respiratória de seus moradores e a resiliência de sua infraestrutura.
Em meio a um manto cinza que encobre o céu, dona Maria Pimenta, dona de casa, exprime a angústia que permeia o cotidiano local. “Temos dificuldades para respirar”, diz ela, enquanto tenta atenuar os efeitos da poluição com água e um umidificador. A situação em Porto Velho atingiu proporções alarmantes essa semana, com a cidade registrou a pior qualidade do ar entre todas as grandes cidades brasileiras, com índices de partículas finas (PM2,5) elevadíssimos – 56,5 microgramas por metro cúbico, 11 vezes acima do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em um dia particularmente crítico, 28 de agosto, o índice de poluição atingiu um pico de 346,4 microgramas por metro cúbico, um nível classificado como “perigoso” pela IQAir, organização independente de monitoramento ambiental. Para muitos moradores, a fumaça se tornou uma constante na vida diária, uma presença invisível que afeta cada aspecto de suas rotinas.
Antônio Joaquim, aposentado de 72 anos, descreve a aflição causada pela fumaça que invade sua casa, apesar dos esforços para manter o ambiente interno o mais limpo possível. “Está horrível. Ontem à noite, acordei com os olhos ardendo por causa da fumaça. Mal conseguia respirar…”, lamenta ele.
A causa desse desastre ambiental é clara: as queimadas florestais que consomem a Amazônia, exacerbadas por uma seca severa que assola a região. Em julho, Rondônia registrou o pior mês em termos de incêndios florestais em 19 anos, com 1.618 focos. A situação se agravou em agosto, com 2.114 focos detectados até o dia 19.
Imagens aéreas revelam a devastação em grande escala, com vastas extensões da floresta amazônica reduzidas a cinzas no município de Cujubim, a leste da capital. A fumaça não só cobre Porto Velho, mas se estende em um corredor denso que atravessa o Brasil, alcançando Bolívia e Paraguai, conforme mostram imagens de satélite.
O impacto na saúde da população é palpável. A infectologista Antonieta Ferreira, do Hospital Infantil Cosme e Damião, relata na imprensa local um aumento nos casos de asma, pneumonia, sinusite e conjuntivite. “É complicado, especialmente para quem tem problemas respiratórios”, diz Beatriz Graça, uma dona de casa de 35 anos, na esperança de que uma chuva traga alívio.
O governo estadual lançou campanhas para alertar a população sobre os perigos das queimadas ilegais, e um esforço para conscientizar e encorajar denúncias está em andamento. A resposta das autoridades e a ação efetiva no combate aos incêndios são cruciais, mas para muitos em Porto Velho, a luta pela qualidade do ar é um campo de batalha diário.
A cidade permanece como um símbolo pungente da crise ambiental que desafia não apenas a Amazônia, mas o planeta como um todo. O céu cinzento de Porto Velho, uma tela de fumaça e frustração, é um lembrete gritante de que a luta pela preservação e pela qualidade de vida é uma batalha contínua e vital.