Procurando um ombro para chorar: inócua ocupação!
Por MARINALDO CUSTÓDIO
Tenho pensado muito nas escolhas que a gente precisa fazer nesta vida para tentar viver melhor. Hoje sei que boa parte dos meus problemas sempre repousou na prevalência exagerada que dei à emoção, à sen-si-bi-li-da-de, em detrimento das atitudes racionais. E, nisto, certamente estive de acordo com a alma do homem brasileiro, este que é, antes de tudo, um triste.
Estudiosos como Antonio Candido sustentam, mesmo, a tese da propensão natural do brasileiro ao romantismo, o que faz, por exemplo, que nossa canção popular seja tão calcada na pieguice e nos derramamentos emocionais.
Na mesma linha, o samba que nasceu do lamento da senzala, e a vocação pátria para chorar mágoas e cultivar idéias de fracasso. De minha parte, depois de tanta derrota, fui percebendo que tinha de tomar certas posições para superar o marasmo.
Há alguns anos, busco me desvencilhar desse mar de problemas, primeiro assumindo atitudes internas num sentido existencial mais objetivo e, segundo e mais complicado, tentando passar isto para a prática e evitar o aprofundamento de relações (e conversações) com aqueles que, como eu mais jovem, parecem seguir o figurino romântico: a eterna insatisfação, aquela coisa de desejar muito algo e, quando esse algo se aproxima da realização, desdenhá-lo e passar a desejar outro algo e assim ad infinitum, num círculo vicioso e viciante.
O filósofo Baruch de Espinosa fala que, muito mais que os talentos e energias naturais que nos vêm de graça ao nascer, o que de fato diferencia o ser humano bem-sucedido do fracassado é a capacidade de canalizar adequadamente esses talentos e energias, fazendo-os atuar de forma racional e positiva em nossas vidas, sem deixar que o vendaval de paixões da alma humana nos turve a vista e nos desvie do melhor e mais acertado caminho.
Então, entre Roberto Carlos e Espinosa, fico com o segundo, e peço piedade a todos os corações despedaçados: não me venham falar de tristeza, não perturbem meu sono frágil, deixem que em minhas noites trafeguem apenas meus próprios fantasmas. Que não são poucos, diga-se.
E quando alguém, de todo modo, ainda insistir em vir me falar de problemas e problemas, e querer me tomar por confidente no relato desses fracassos todos, vou recomendar-lhe, à lá Chico Buarque, que fume, e cheire, e beba Espinosa.
Se não resolver, que arranje logo um amor descomplicado. Ou um analista. Ou uma igreja. Se, a despeito de todos os tratamentos, o problema persistir, então, que vá procurar outro ombro para chorar, porque o meu, definitivamente, já não se presta mais a tão enfadonha e bem
MARINALDO CUSTÓDIO, mestre em literatura brasileira, escreve para este Pasquim Teológico