Sol Laranja, Lua Vermelha, Chuva Preta e Rios Verdes
Por João Carlos Gomes
O Brasil, como se a história o colocasse em um palco de teatro surreal, assiste a um espetáculo ambiental que desafia a lógica e a ciência. A cada amanhecer, um sol laranja se levanta no horizonte, como uma bola de fogo surreal, lançando uma luz que é tanto bela quanto inquietante. À noite, a lua pinta-se de vermelho, um fenômeno que a lua jamais havia tentado antes. A chuva, que antes era uma benção fresca, agora cai preta, e os rios, que refletiam um azul profundo, correm verde como se o próprio líquido se insurgisse contra a pureza de outrora.
O sol laranja é resultado de uma combinação mortal de queimadas descontroladas e poluição atmosférica. O aumento das emissões de partículas e gases provenientes da queima de florestas e das emissões industriais faz com que o céu absorva e difunda a luz solar de forma diferente. A partículas de poluição no ar cria uma neblina que filtra a luz do sol, tornando-a laranja, um sinal claro de que o ar está carregado de contaminantes químicos.
A lua vermelha, por sua vez, é um eco da mesma crise. O fenômeno, conhecido como lua de sangue, é intensificado pela poluição atmosférica que aumenta o número de partículas na atmosfera. Essas partículas dispersam a luz de maneira que a lua, ao refletir o brilho do sol, adquire um tom avermelhado, como se a noite estivesse manchada pelo mesmo desespero que assola o dia.
A chuva preta é a resposta ácida e triste do céu às nossas ações insustentáveis. A queima de combustíveis fósseis e a poluição industrial fazem com que os poluentes se misturem com as nuvens, precipitando-se na forma de uma chuva que não é mais a benção da agricultura, mas um veneno para a terra e a vida. A acidez da água provoca a morte de plantas, a contaminação dos solos e a degradação das fontes de água.
E os rios verdes, este talvez seja o mais chocante. O verde não é um sinal de vida, mas de um desequilíbrio tóxico. O esgoto não tratado e os produtos químicos despejados nas águas fazem com que algas tóxicas proliferem, dando aos rios uma coloração que é o reflexo de nossa indiferença para com os recursos naturais. Esses corpos d’água, antes símbolos de pureza, tornam-se retratos vivos da poluição.
O Brasil, com seu exuberante bioma e uma biodiversidade única, está agora imerso em um ciclo de mudanças visuais e atmosféricas que ecoam as nossas escolhas erradas. O sol laranja, a lua vermelha, a chuva preta e os rios verdes são os sinais inconfundíveis de uma crise ambiental que não pode mais ser ignorada. A paisagem que se desenha diante dos nossos olhos é a evidência de que precisamos agir – e agir rápido – para reverter os danos que causamos e restaurar o equilíbrio do nosso planeta. Se não o fizermos, o espetáculo que assistimos pode se tornar nossa nova e sombria normalidade.
João Carlos Gomes é Doutor em ciências pela UFSCar e docente e pesquisador da Universidade Federal de Rondônia