Solidão Acadêmica
O professor estava sentado em sua sala, de frente para o computador, mas não via nada além de um vasto vazio. A tela piscava insistente, com uma mensagem que exigia respostas urgentes para prazos acadêmicos. No entanto, não era disso que ele precisava. O que pesava era a solidão de estar cercado por paredes e prateleiras cheias de livros que já não falavam mais com ele. A ciência, que um dia o fascinara, parecia agora tão fria quanto as cadeiras de plástico da sala de aula.
Ele começou a divagar, como quem procura um caminho no meio de um mapa cheio de rotas desconhecidas. Se a Geografia estuda paisagens, lugares e territórios, que lugar era aquele onde a alma dele se encontrava? Que tipo de território é o da solidão acadêmica, cercado por exigências de produtividade, mas vazio de significados mais humanos?
Refletiu sobre a paisagem interna, um terreno repleto de montanhas de expectativas, vales de cansaço e rios de frustrações. E, no entanto, havia algo mais. Era como se ele pudesse mapear não apenas os espaços concretos, mas também as sensibilidades da alma: aquelas emoções que se escondem nas curvas de nível do peito.
Entre um pensamento e outro, lembrou-se de uma aula que dera há muitos anos, em que falara sobre “território.” Explicara aos alunos que o território não era apenas um espaço físico, mas algo carregado de significado, poder, disputas. Seria sua alma também um território, em conflito entre a razão acadêmica e as sensibilidades morais que ele tentava preservar?
Um som de passos no corredor o arrancou da reflexão. Uma colega abriu a porta, com a típica correria de quem está sempre atrasada. “Professor, vai no café? Faz tempo que a gente não conversa.” Ele hesitou, mas acabou indo.
Na cafeteria, entre risadas tímidas e confidências sobre alunos, projetos e até sobre os desamores da vida, ele percebeu algo. A geografia das sensibilidades da alma também incluía os outros. Assim como rios e montanhas não existem isolados, ele também fazia parte de uma paisagem mais ampla. Talvez a solidão acadêmica fosse só um ponto no mapa, uma fase de travessia, e não um destino final.
Quando voltou para sua sala, sentiu que o vazio não era mais tão grande. Havia ali, na poeira dos livros e na claridade da janela, uma ideia nova: a de que mesmo nos territórios mais áridos, há sempre a possibilidade de desenhar novos caminhos.