Violência e Impunidade: O Ataque Brutal aos Avá-Guarani e a Farsa da Justiça

Na calada da madrugada de hoje, 28 de agosto, o oeste do Paraná se viu ensopado em sangue e desespero. Fazendeiros armados até os dentes, munidos de espingardas e acompanhados de capangas, desencadearam um ataque brutal contra os Avá-Guarani do Tekoha Y’Hovy, situados no município de Guaíra, na Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá. A cena, digna de um filme de terror, se desenrolou sob a escuridão e a violência, revelando a face mais cruel da impunidade no campo.

Por volta das 23h de ontem, os fazendeiros iniciaram a investida com disparos indiscriminados. Como se estivessem em uma caçada de javalis, os tiros se espalhavam, atingindo jovens e mulheres que, como presas, não tinham a menor chance de defesa. A estratégia empregada, semelhante à utilizada nas caçadas noturnas, garantiu que o chumbo se espalhasse a cada disparo, ferindo ao menos quatro pessoas, duas delas em estado grave.

Em um ato de desespero e resistência, os jovens indígenas tentaram documentar ao vivo o ataque, transmitindo pelas redes sociais os gritos de terror e a imagem da violência desenfreada. Entre os reflexos das luzes das camionetes e o estourar dos tiros, a cena era apocalíptica: a agonia dos Avá-Guarani cercados e o número crescente de feridos desenhava uma noite de horror.

A Força Nacional, chamada para intervir, demorou a aparecer e, quando o fez, sua presença pouco mais foi do que um enfeite, servindo apenas para reforçar a sensação de abandono e desproteção dos indígenas. O aparato policial pareceu mais uma formalidade do que uma força efetiva para conter a violência.

Só pela manhã, após a cessação dos tiros, um motorista da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) chegou para socorrer os feridos e levá-los ao hospital. O receio de novos ataques paira sobre a comunidade, que continua a viver em um clima de tensão e insegurança.

A reação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul não deixa margem para dúvidas: condena veementemente a barbaridade dos fazendeiros, cujos atos de violência são cada vez mais comuns e sistemáticos. Esses homens do agronegócio, que deveriam se ater à produção de soja e milho, revelam-se como criminosos contumazes, intocáveis pela justiça e pela lei.

Enquanto isso, em Brasília, a farsa continua. O Supremo Tribunal Federal, sob a batuta do ministro Gilmar Mendes, promove uma comissão de conciliação que mais parece uma encenação para desviar a atenção das reais necessidades e direitos dos povos indígenas. A tentativa de discutir a tese do marco temporal, já rejeitada em setembro de 2023, é uma manobra para relativizar e enfraquecer a proteção dos direitos indígenas. O STF e demais instituições públicas, que deveriam ser os guardiões da Constituição, têm se mostrado cúmplices e coniventes com a violência sistemática.

A noite de terror enfrentada pelos Avá-Guarani expõe não apenas a brutalidade dos ataques, mas também a ineficácia das políticas públicas e da justiça que deveria proteger esses povos. A cada ataque, a cada injustiça, o Brasil se distancia ainda mais do ideal de uma nação democrática e respeitosa. Pactuar com essa farsa jurídica e política é, na prática, sancionar a violência e a opressão que assola as comunidades indígenas.

Em um cenário que parece extraído de um pesadelo, o ocidente do Paraná testemunha uma nova versão da selvageria, não nas florestas impenetráveis da Idade Média, mas na contemporaneidade do Brasil. A crueldade contra os Avá-Guarani do Tekoha Y’Hovy, perpetrada por fazendeiros que os tratam como se fossem caça, revela um retrato desolador da falta de humanidade que ainda permeia no Brasil do Lula.

Os fazendeiros, em um ato que desafia a lógica e o decoro, lançam-se contra os Avá-Guarani como se estivessem caçando animais selvagens. Essa mentalidade predatória e desumana não é apenas uma afronta à dignidade humana, mas também uma insulta ao próprio conceito de civilização. Enquanto se debatem questões sobre o avanço tecnológico e a modernidade, a realidade no campo nos mostra que há uma distância abissal entre progresso e respeito pela vida e pelos direitos.

O ataque aos Avá-Guarani é um símbolo da crescente militarização do agronegócio, onde a violência e o autoritarismo se tornam ferramentas de expansão territorial. A desumanização dos povos indígenas, transformados em meros obstáculos a serem eliminados para o avanço das fronteiras econômicas, é um reflexo perturbador de uma sociedade que ainda não aprendeu a respeitar a diversidade e a coexistência pacífica.

Mais do que uma simples disputa territorial, o que se desenha em Tekoha Y’Hovy é uma guerra aberta contra a própria essência da identidade cultural dos povos indígenas. As ações dos fazendeiros não apenas violam direitos humanos fundamentais, mas também desrespeitam um legado ancestral que deveria ser preservado e respeitado.

É imperativo que a sociedade brasileira e suas instituições se posicionem com firmeza contra essas atrocidades. A impunidade para esses ataques é um incentivo para que essa barbárie continue, e a voz de cada cidadão deve se erguer em protesto contra essa violência desmedida. O que está em jogo não é apenas a sobrevivência de um povo, mas a integridade moral de toda uma nação. Não podemos permitir que o Brasil se torne um palco onde o direito à terra e à vida é decidido pela força bruta e pela indiferença. A dignidade dos Avá-Guarani é um reflexo da nossa própria dignidade como sociedade.

João Guató

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