Zé Moleira Aberta e a Medida do Amor
O Zé, com a testa franzida e a moleira aberta, andava pela cidade feito folha ao vento, sempre perguntando a mesma coisa, sem descanso e sem medo do ridículo: “Qual é a medida do amor?” Ele não sabia quando a ideia lhe entrara na cabeça, só sabia que queria, ou melhor, precisava saber. Achava que entender isso seria como achar o mapa de um tesouro. O que ninguém dizia pra ele, coitado, é que o tesouro talvez fosse a própria pergunta.
Primeiro, foi até o mercadinho. O Seu Juarez, dono dali, passou a vida economizando tudo: as palavras, as contas, até os gestos. Não gastava nada além do necessário. Zé esperou o balcão esvaziar e mandou a pergunta: “E aí, Seu Juarez, como se mede o amor?” O velho franziu o nariz, pegou a calculadora e soltou: “Amor, meu caro? Isso aí é besteira pra quem tem tempo. Se existe medida, é a da paciência. Quanto mais você aguenta, mais você ama. O resto é poesia barata.”
Zé saiu de lá sem resposta, mas com o coração meio esquisito, como se uma pontinha da verdade tivesse dado as caras. Andou até a praça e encontrou o Poeta da Rodoviária, figura conhecida, que vivia declamando pra ninguém ouvir. “Poeta,” ele perguntou, “qual é a medida do amor?” O homem fechou os olhos e disse: “Amor, Zé, é o que te escapa pelos dedos quando você tenta segurar. Medir, medir… pra quê? Só sente.”
O Zé ficou com aquilo na cabeça, mas ainda não era o suficiente. Caminhou sem rumo até dar de cara com Dona Mariquinha, velha de muitos amores perdidos e outros tantos guardados. “Dona Mariquinha,” ele arriscou, “qual é a medida do amor?” Ela, sem pressa, respondeu: “O amor é medido pela falta. Ele só se mostra inteiro quando some.”
O Zé sentiu um aperto estranho, como se aquilo fosse uma verdade que não queria aceitar. Se o amor era a falta, então ele sempre estaria incompleto. Passou dias assim, com a cabeça meio mole e o coração pesado.
E numa dessas caminhadas, achou uma criança que brincava de pular amarelinha na rua. Curioso, Zé perguntou, quase sem esperar muito: “E você, sabe medir o amor?” A menina riu. “Eu? Fácil! Amor não tem medida, tio. É igual, ó, o céu.” E esticou os braços, como se fosse abraçar o infinito.
Naquele instante, o Zé sentiu algo que não vinha da moleira, mas de dentro do peito. Talvez a resposta estivesse ali, na ausência de qualquer limite ou conta. A medida do amor, se é que ela existia, era justamente não ter medida alguma. E ele sorriu, sentindo a cabeça mais leve e o coração mais vasto do que nunca.
Desde então, quem encontra o Zé pelas ruas, só ouve um conselho, sincero e direto, com uma alegria desmedida: “Amor, meu amigo, é coisa pra quem quer perder a conta. Então ame. Ame sem limite nenhum.”